Resenhas

Sonder – Into

Trio norte-americano lança EP que busca recriar o R&B noventista

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Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 7
Estilos: Alt-R&B, R&B, Eletrônica
Duração: 25:46
Nota: 3.0
Produção: Sonder

Como dizem por aí na Internet, “tá tendo” revival de R&B dos anos 1990. Claro, a gente já sabe que revival não é nostalgia, sendo o primeiro constituído por aquela reinterpretação marota, aquela revisão estética simpática, em suma, um processo que visa criar algo novo a partir de influências já velhuscas. Este é o caso deste trio de Baltimore, no qual Brent Faiyaz é o cantor e Dpat e Atu são os produtores, fazedores de batidas e ambiências. A matriz, como já dissemos, é esta variante da música negra do fim dos anos 1990, embebida nas levadas do R&B de gente como Babyface, Ted Riley e R. Kelly, ilustres desconhecidos de uma maioria de fãs não-americanos de Sonder. O trio pretende deixar as coisas bem claras a partir deste EP Into, no qual reúne várias canções postadas no Soundcloud desde o verão passado.

Era uma época interessante, a tal virada do milênio. O trio procura trazer em sua música, sobretudo, os aspectos mais climáticos e lentos da música produzida naquela tempo que, por sua vez, visava recriar os temas mais lentos dos anos 1970. Nessa constante centrífuga reprocessante, ficamos agora com uma versão mais eletrônica e minimalista da coisa. Saem arranjos de cordas, metais e demais chantillys instrumentais e mantém-se uma profusão de vocais dobrados, triplicados em falsetes, batidas eletrônicas padrão, baixos e guitarras sintetizados, tudo ao mesmo tempo agora.

Como já fizemos questão de deixar claro, nada sobrevive na música popular sem boas canções. Sonder tem boa desenvoltura neste quesito também, mas ainda precisa dosar seus parâmetros estéticos com as melodias capazes de fazer o trio sobreviver a uma análise mais apurada e sincera. Há bons momentos por aqui, especialmente o single Too Fast, que faz bonito no desenvolvimento da melodia, com performance iluminada de Brent nos vocais. Searchin’ também faz bonito neste universo sintetizado, proposto pelos sujeitos. A vinheta Baldwin Park é interessante pelo lado oposto: não tem vocal principal, apenas idas e vindas de efeitos sobre piano, baixo e beats.

Não dá pra saber se os niggas old school casca grossa das quebradas se amarram nesta sonoridade que o trio propõe, mas dá pra ver que os caras estão em processo evolutivo. Atingiram um padrão satisfatório em tempo relativamente curto juntos e podem render mais. Vamos ficar de olho.

(Onto em uma música: Too Fast)

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BOM PARA QUEM OUVE: Lewis Del Mar, River Tiber, James Blake
ARTISTA: Sonder
MARCADORES: Alt-R&B, Eletrônica, R&B

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.