Resenhas

Jidenna – The Chief

Apadrinhado por Janelle Monáe, cantor e produtor falhou na escolha do repertório

Loading

Ano: 2017
Selo: Wondaland/Epic
# Faixas: 14
Estilos: Rap, Rap Alternativo, R&B
Duração: 57:26
Nota: 2.5
Produção: Jidenna Mobisson, Nana Kwabena e Nate "Rocket" Wonder

Num tempo em que o som híbrido de Rap e R&B é chamado pelo Grammy de Urban Contemporary, traduzido, Urbano Contemporâneo, a gente fica pensando se não está diante de uma nova sonoridade. Eu acho que sim, este seria um novo membro da família da música negra norte-americana, talvez o primeiro do século 21, fruto das misturas e adaptações que surgem sempre da sociedade. O urbano e contemporâneo aqui fica por conta das interações, claro, surgidas nas cidades, entre a juventude, cada vez mais próxima de adquirir equipamentos eletrônicos que viabilizem a criação musical e pela propagação do Rap entre essa galera, muito mais próximo dela e muito mais democrático.

Numa realidade como essa, é preciso ter algum diferencial para se destacar. É o caso de Jidenna, filho de norte-americana e nigeriano, que passou a infância em Lagos, capital da Nigéria, voltando para o leste dos Estados Unidos pré-adolescente. Cresceu, fez amizades com sua galera e, bingo, em vez de montar uma banda de garagem, juntou grana, comprou computadores, samplers, teclados e montou uma equipe de produtores, compositores e multitarefas. Além disso, Jidenna, que tinha uma boa voz, se destacou por poder assumir esta tarefa quando preciso. Despertou a atenção de ninguém menos que Janelle Monáe, que o convidou para assinar com seu selo, o Wondaland. Tudo isso aconteceu há pouco tempo, sendo este The Chief o seu primeiro disco, sucessor de alguns EPs que ele andou soltando por aí, com relativo êxito.

O fato é que este primeiro trabalho de Jidenna tenta introduzir alguma semente de exotismo, especialmente por uma fragrância de música africana em alguns momentos, mas acaba se tornando chato e, em alguns momentos, pretensioso. Nada errado com as batidas e os climas que ele consegue, mas as canções não apresentam os requisitos essenciais para cativar a audiência, por mais descolada que seja. Sem boa música, amigos, não tem negócio, certo? Ficamos por quase uma hora esperando por algum momento redentor, que nos fará cravar: não, este Jidenna tem futuro, precisa amadurecer e só. Porém, amigos, ele não acontece ao longo destas longas catorze faixas. Algumas, inclusive, parecem durar muito mais, caso de Bambi, uma faixa melodiosa que espanta pela banalidade e repetição. Este é o caso também de Helicopters/Beware, chata e interminavel, com mais de seis minutos.

Há momentos em que Jidenna tenta enveredar por algo mais cru e mais próximo do Rap, caso de Long Live The Chief e 2 Points, que parecem feitas em 1994, mas sem a criatividade que parecia abundar naquela época quando o assunto era rimar sobre batidas. A madrinha Janelle Monáe participa em Safari, mais uma canção que tenta adentrar o terreno do exotismo étnico, aproveitando a ascendência africana do cantor e produtor. É a melhor do album, mas também fica a dever em termos de criatividade, investindo numa levada arrastada e previsível. Outra boa faixa é Little Bit More, que parece uma dessas canções de eventos comemorativos, como Copa do Mundo ou algo no gênero, com um clima festivo e percussivo interessante. Boas chances são desperdiçadas na enfezadinha White Niggas e na ecológica e consciente Bully Of The Earth, que naufraga em meio a calotas polares derretidas pelo tédio.

Se há algo para destacar aqui é a boa mão do sujeito na produção. Ele tem boas ideias, batidas interessantes e demonstra uma boa noção do tipo de sonoridade que agrada público e crítica. Só precisa de canções e ideias melhores, quesitos importantes, indispensáveis para um bom artista Pop. Melhor sorte da próxima vez.

(The Chief em uma música: Safari)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Tinashe, Drake, Miguel
ARTISTA: Jidenna
MARCADORES: R&B, Rap, Rap Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.