Resenhas

Peter Silberman: Impermanence

Cantor americano segue os passos de Jeff Buckley

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Ano: 2017
Selo: Anti
# Faixas: 6
Estilos: Folk, Singer Songwriter , Folk Alternativo
Duração: 35:51
Nota: 4.0
Produção: Nicholas Principe, Peter Silberman

Peter Silberman não parece nome de personagem de alguma série da Netflix? Um funcionário do governo norte-americano de segundo escalão. Um soldado que volta do front. Um político venal. Mas não. É o nome de um promissor cantor e compositor do Brooklyn, Nova York. Ele é conhecido também por sua participação na banda The Antlers, mas sua carreira solo, iniciada há cerca de três anos, é bastante interessante e propõe navegar por mares tempestuosos do que entendemos hoje por Folk Alternativo. Para isso, para mostrar que pode – e deve – ser diferente do grande número de cantautores violonisas/guitarristas, com um pé na tradição folkie e outro na urbanidade do século 21, Peter vem com uma ambição interessante: ser uma espécie de Jeff Buckley.

Sim, devemos observar a arrojada meta do sujeito. Para arranhar a carreira de Jeff, Peter precisaria ter uma voz ímpar, para início de conversa. Ele tem. Não é novidadeira como a de Buckley, mas tem uma verve jazzística feminina, algo que pode ser trabalhado com o tempo e que pode, sim, fornecer distinção ao sujeito. Outro ponto a ser notado, a capacidade de fazer versões matadoras, algo que Silberman não mostra aqui, mas que nos deixa com bastante curiosidade. Este Impermanence é um EP que tem seis faixas autorais, uma mais bonita que a outra, cheias de intensidade e fome de bola. O instrumental é provido pelo próprio Peter, ou seja, violões e guitarras lentos, arrastados, sem pressa, que servem como pavimento para que sua voz desfile.

As duas canções iniciais, Karuna e New York, apesar de bem diferentes, mostram o que o falsete de Peter pode fazer. Melodias lindas, em câmera lenta, que escapam das visões idealizadas de cidades menores e vida simples, preferindo não abrir mão do corre-corre da megalópole e de ficar adivinhando o destino das pessoas que passam lá embaixo, na chuva, enquanto as vê do alto da janela do prédio. É uma visão familiar e lírica o bastante para a gente se identificar e tornar personagem, destinatário das canções.

Gone Beyond parece uma bela canção de ninar para a pessoa amada, visando protegê-la de todo o mal. Maya exibe ruídos de fundo, imersa na própria paisagem, decalcada pelo alto que a voz de Peter é capaz de alcançar. Ahimsa também é lenta e cheia de ruídos oriundos da passagem dos dedos nas cordas da guitarra, causando uma impressão de ensaio, trazendo intimidade para o ouvinte. Seus sete minutos de duração reservam várias surpresas vocais ao longo do caminho, para desaguar na faixa-título, instrumental, estranha, mas também a mais curta e intimista canção de um disco cheio de faixas que não têm pressa para acabar.

Peter Silberman é mais um desses cantores que surgem com um futuro enorme pela frente. Vamos ficar de olhos e ouvidos abertos para tudo o que fizer, porque ele vai longe.

(Impermanence em uma música: Karuna)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.