Resenhas

San Fermin – Belong

Músico multitarefas, produtor e arranjador dá sua versão do Pop

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Ano: 2017
Selo: Downtown Records
# Faixas: 13
Estilos: Chamber Pop, Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 49:47
Nota: 4.0
Produção: Ellis Ludwig-Leone

Estou aqui “de boas”, ouvindo este redondíssimo e adorável Belong, terceiro trabalho de San Fermin. A banda é um alterego de Ellis Ludwig-Leone, músico, produtor, multitarefas e aspirante a gênio Pop dos subterrâneos. O sujeito tem talento, é um homem de seu tempo e, com o passar dos anos, fez de San Fermin um combo de músicos alternativos, com vocalistas principais, backing vocals e tudo mais, dando pinta daqueles sujeitos do passado, especialmente Burt Bacharach, que gravavam álbuns com uma banda fixa, no máximo se limitando a tocar um instrumento, preferindo reger sua pequena orquestra. No meio do caminho, passavam por um Pop classudo e polido, cheio de belezas melódicas, refrãos sensacionais e ganchos grudentos, que faziam as canções grudarem na parede da memória.

Com este novo álbum de San Fermin o resultado é um pouco distinto. Ellis parte do que as pessoas costumavam chamar de Chamber Pop, ou seja, o mesmo Pop Orquestral do primeiro parágrafo, devidamente processado por uma abordagem Rock, com menos metais, menos pianos e mais cordas, mais teclados, mais violões, tudo bem bonito e climático, caso dos primeiros álbuns. A onda agora é diferente: ele assume o papel de introdutor de “seu Pop”, do seu toque pessoal, oferecendo ao ouvinte a sua versão de várias nuances da produção Pop atual, passeando por canções mais animadas, dançantes e com apelo mais amplo, abrindo suas portas para explorar timbres eletrônicos, flertar com o Synthpop, abraçar composições e arranjos que poderiam ser de gente como Of Montreal, em suma, se esbaldar um pouco mais e oferecer mais cor para o ouvinte.

A dupla de vocalistas Allen Tate e Charlene Kaye é capaz de cobrir um vasto território de possibilidades musicais. Tate é dono de um registro grave/sombrio, que encaixa em canções como Bones, que tem uma ambiência belíssima, lembrando boas gravações de bandas como Lambchop e Tindersticks. O contraste dela com Dead, que vem logo em seguida, só pode ser proposital. Melodia alegre, com cordas e vocais de Charlene, com exuberância e alegria de viver em alto número. Ainda que esta dualidade seja um elemento poderoso do álbum e que ela contribua para enfatizar o talento de Ellis como mente pensante, seria injusto restringir o mérito de Belong apenas a isso. O sujeito também é capaz de sustentar uma ótima capacidade de composição e um talento acima da média para confeccionar arranjos que escapam da mesmice sintética que parece assaltar o senso comum, baseado apenas em custo/benefício.

Isso significa dizer que temos, sim, instrumentais luxuriantes, com belas passagens com cordas e metais, dando a ideia de que San Fermin é, de fato, uma pequena orquestra. Open é a primeira faixa, que serve como uma declaração de intenções estéticas para o que virá em seguida. Charlene Kaye canta alto e bonito, mostrando-se uma excelente vocalista. Ela segue dominando a cena em Bride, que tem mais pinta de algo escandinavo revisitado, Pop até os ossos, capaz de levantar plateias por onde passar. Melodias mais brandas e eletroacústicas permeiam Oceanica, dessa vez com vocais de Allen Tate, mostrando que ele também é capaz de sustentar canções que escapam das sombras, ainda que sua voz soe meio fora de lugar, o que, por outro lado, confere uma simpática estranheza ao todo. Outro momento de brilho intenso é Better Company, mais um híbrido acústico, meio piano, meio cordas, meio qualquer coisa, com um andamento dançante totalmente torto e adorável. No Promises passaria facilmente por um hit oitentista esquecido, acrílico e cheio de penteados cúbicos. Cairo é apoteose enfumaçada de tons sépia na cidade estranha, sob a poeira do meio dia. Palisades/Storm é melodia litorânea de reflexão encerrando ciclo da vida, que é invadida por momento dissonante e segue transformada. Há várias possibilidades por aqui.

Ellis Ludwig-Leone é meticuloso e parece se divertir criando suas composições e se apropriando de estilos e nuances. Faz isso com facilidade e consegue mostrar várias habilidades ao longo deste álbum. Recomendado para quem procura alternativas Pop para um gênero que precisa de renovação/reinvenção.

(Belong em uma música: Palisades/Storm)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.