Resenhas

Luiza Lian – Oyá Tempo

Trabalho traz uma das revelações mais interessante da música Experimental no Brasil

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Ano: 2017
Selo: Risco
# Faixas: 8
Estilos: Experimental, Eletrônica, Glitch Music
Duração: 25:48
Nota: 4.5
Produção: Charles Tixier

A música nos leva a extremos e Luiza Lian domina esta prática há tempos. Com um disco de estreia preocupado em estabelecer novas relações com suas referências, que vão da Afromusic ao Folk, a compositora comprovou que sua obra é um assunto de importância indiscutível, tendo como missão capturar e expressar todo seu espectro emocional e trabalhá-lo em prol de uma investigação profunda. Agora, Luiza leva sua missão a um novo patamar, introduzindo uma nova variante em todo este processo.

O novo disco, Oyá Tempo, traz, além das oito faixas, um filme de média-metragem produzido pela Filmes da Diaba como forma de ilustrar a ambientação das composições, compreendendo uma nova forma de encarar o trabalho da compositora. Assim, se o primeiro álbum nos disse algumas coisas sobre Luiza, neste novo registro, ela simplesmente queima tudo o que sabíamos para nos surpreender com uma fantástica e transcendental viagem.

O novo trabalho é, ao mesmo tempo, uma mistura de referências diametralmente opostas e uma simbiose de todas as emoções de Luiza. Ao mesmo tempo que é possível identificar uma influência de Funk aqui ou um pouco de Hip Hop ali, o conjunto da obra é altamente experimental e dispensa rótulos. Desta forma, a compositora vai aos poucos compreendendo o próprio universo sob perspectivas totalmente desconhecidas por nós e por ela mesma, e isto lhe traz uma profunda autoconsciência. É como se Oyá Tempo fosse uma oração, que ela profere com convicção e, como são seus pensamentos o objeto de sua louvação, a obra é extremamente narcisista. Ou seja, Luiza reverencia sua própria história.

A faixa de abertura Tucum entoa um batidão Funk com sintetizadores suaves para falar sobre a justiça e orgulho. Tem Luz (Úmida V) traz uma base sedutora, ao mesmo tempo que bastante nostálgica, com acordes típicos de baladas românticas dos anos 1980. Já Flash (Úmido Iv) e Cadeira são tensas e viscerais, quase como se Luiza estivesse remoendo suas entranhas para se conhecer totalmente. Pó de Ouro traz uma poesia fantástica sobre uma base etérea e reverberada. Manada é interessante pela simplicidade feita, entoando um Coco popular e distorcendo a voz com efeitos 8-bit. Por fim, É Nela Que Se Mora entoa um beat de jazz sombrio e repetitivo que finaliza o trabalho como se estivessemos cada vez mais fundo na mente de Luiza.

Oyá Tempo é um trabalho interessante, porém árduo, o que não deve ser encarado como um demérito. O processo de experimentação e autoinvestigação é lento, mas saceia nossa curiosidade e nos apresenta uma interessante forma de interpretação. Vale a pena encarar o trabalho com e sem o vídeo para entender as diferentes percepções que podemos ter desse fascinante trabalho. Um disco traiçoeiro, pois nos traz um convite irrecusável para degustá-lo, mas não nos deixa sair tão facilmente.

(Oyá Tempo em uma faixa: É Nela Que Se Mora)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique