Apesar de já ter uns anos de estrada, foi através do primeiro disco de estúdio, lançado no ano passado, que conhecemos de verdade uma banda de nome engraçado e que parodia o nome de um Beatle. A Ringo Deathstarr lançava Colour Trip, um disco muito elogiado pela crítica, contendo um ótimo Shoegaze com Noise Pop. E como é tradição, sempre que uma banda se prepara para lançar o próximo material, vem junto dele o dilema do segundo disco. Ficam as dúvidas se haverá alteração no som, nas bases musicais, na temática – enfim, o segundo álbum acaba se tornando um motivo até de certa pressão para algumas bandas.
O que podemos ver em Mauve é que o trio texano não se deixou afetar por essa pressão e saiu compondo ótimas faixas. A banda manteve suas influências de My Bloody Valentine, The Jesus & Mary Chain e Lush, entre outras bandas de peso do Shoegaze raiz.
Podemos até dizer que se apegaram ainda mais a esse som, já que as faixas de Mauve vem bem mais densas, cruas e encorpadas e com toque de certa psicodelia, como pode ser visto logo na faixa de abertura, Rip, que vem junto de um vocal arrastado de Alex. Essa e outras, como Drag, Girls We Know e Wave, nos mostram que, diferentemente de Colour Trip, a energia do segundo disco vem mais da força das distorções e do som sujo do que de uma melodia mais Pop.
A atmosfera do novo trabalho diverge um pouco do anterior por se tratar de algo mais introspectivo e menos dançante. As músicas são, em sua maioria, sussurrantes e lentas ou com guitarras em afinações pesadas e contundentes. Porém, a junção de faixas de ambos os discos é algo muito bem receptivo. O exemplo disso foi o show da banda no SP Popfest no mês passado, no qual fez exatamente essa mistura.
O disco é interessante, pois agrada dois diferentes públicos. Os que já gostavam de Ringo Deathstarr vão encontrar um trabalho mais elaborado da banda, com maior apego às raízes do estilo. O outro público é aquele que não conhece a banda, mas é um apreciador do Shoegaze antigo e, dessa maneira, vai perceber que o trio soube muito bem trazer de volta esse som para 2012.
Se o dilema do segundo disco é algo que uma banda tem que quebrar, a Ringo Deathstarr o encarou sem medo e trouxe um disco primoroso e tão bom quanto o primeiro. Mauve chegou para confirmar a banda como uma das melhores do cenário alternativo no estilo.