Resenhas

Sylvan Esso – What Now

Duo americano retorna com visão pessoal do Pop

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Ano: 2017
Selo: Loma Vista
# Faixas: 11
Estilos: Eletrônica Pop Alternativo, Folk Eletrônico
Duração: 34:09
Nota: 3.0
Produção: Nick Sanborn

Interessante. O duo americano Sylvan Esso chega ao segundo disco, este simpático What Now, retratando uma tendência que parece bem nova/novíssima: o despertar de uma galera na faixa dos 20/30 anos que está se dando conta de que o mundo – até para habitantes do Hemifério Norte – não é nada justo ou fácil. É uma visão política bem ampla, mais questionadora e perplexa diante de certos absurdos, do que um convite a marchar contra algum alvo em especial. Os vocais de Amelia Meath se casam bem com o blips e blops conferidos pelo produtor e multimúsico Nick Sanborn, constituindo uma boa opção para artistas inócuos que grassam nas paradas mais Pop do planeta.

Apesar do bom gosto de Sanborn e dos vocais acima da média de Amelia, o álbum não parece capaz de exibir fôlego, justo porque suas canções e arranjos soam muito parecidos e, após certo tempo, monótonos. A ideia é usar uma Eletrônica acrílica, enfatizando sintetizadores climáticos, às vezes beirando sonoridades de jogos eletrônicos vintage, concedendo espaço acessório a batidas, que são sempre magrinhas e delicadas. É legal, Sanborn tem boa mão na produção e na confecção da coisa, mas não escapa da monotonia. Outro quesito importante, a qualidade das canções, também depõe contra a integridade estrutural do álbum, deixando aqueles que prezam apenas o respeito tecnológico contemplados, em desfavor dos amantes de refrãos e estruturas melódicas mais convencionais.

Como dissemos, não compromete totalmente a audição do álbum, mas é raro encontrarmos canções mais legais que Kick Jump Twist, que parece composta numa sala de jardim da infância do futuro, com engenhocas coloridas e saltitantes sendo programadas por crianças fofas e inteligentes, enquanto a dupla orienta máquinas e seres humaninhos nas tarefas. O resultado é uma ótima gravação, com esse turbilhão de batistas leves e teclados que podem ser amigos da garotada mas também clamam por seriedade por parte do ouvinte. Esse equilíbrio entre algo supostamente lúdico e uma vertente mais séria é bem manipulado pela dupla, especialmente por Sanborn, que consegue orientar bem os vocais de Amelia, que exploram territórios distintos.

Essa versatilidade vocal é outro trunfo contra a monotonia. Amelia consegue soar bem mais contundente em Radio, libelo anti-comercial intencional, na base do “vamos usar o sistema contra ele mesmo”, desafiando paradas de sucesso e conceitos mercadológicos furados/risíveis que revestem esses problemas do mundo com estrangeirismos vazios e ideias ocas. Bons exemplos dessa capacidade estão no single Die Young, que mexe bem com as características do Pop gelado dos anos 80, mas aposta na fragmentação de batidas leves em oposição à voz intencionalmente mais encorpada de Amelia.

No fim das contas, What Now surge como boa opção para uma ideia de Pop baseada em elementos similares aos que estão em voga, mas explorando-os de forma diferente, mais sutil, mais inteligente, apostando que o ouvinte terá bom senso/bom gosto para apreciar. É legal, mas é arriscado, porém, a modernidade parece dar ousadia a artistas para ousar apostar em seu público e isso é bem louvável.

(What Now em uma música: Kick Jump Twist)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.