async é o novo álbum instrumental do compositor japonês Ryuichi Sakamoto, lançado no alto dos seus 65 anos de idade. Pensado como uma trilha sonora para um filme imaginário, o trabalho desenvolve-se sem pressa, correndo como um riacho plácido, tratando o ouvinte com gentileza. Ou ainda, talvez seja melhor encarar esta peça sonora como uma pequena jóia cristalina assentada no leito do mesmo rio, formada pela paciência da água e tratada com o cuidado de um ourives oriental.
Sakamoto, que já compôs inúmeras trilhas sonoras de renome (como a do filme O Céu que Nos Protege, por exemplo), aqui exercita a liberdade poética, imaginando um filme de Andrei Tarkovsky que não existe. De fato, ouvir async é pensar nos tempos alargados e nos toques delicados do diretor russo.
Também não é difícil de imaginar como a contemplação diante de coisas que transcendem a compreensão humana, como a morte, surgem diante de tais meditações, já que, nos últimos anos, Sakamoto passou por um tratamento contra o câncer e agora parece refletir sobre a vida com nostalgia e sem alarme. async, como seu título sugere, só está fora de sincronia com a correria de uma vida cotidiana banal, uma vez que parece muito bem alinhado ao clima de um ambiente meditativo. Nesse sentido, o trabalho está na mesma onda de outros grandes artistas da Música Ambiente, como Philip Glass ou Brian Eno. Seu novo álbum é um presente instrumental feito com calma e sem desperdício, um ansiolítico contemporâneo que há de ser muito bem vindo pela maioria dos ouvintes.
(async em uma música: Life, Life)
