Resenhas

Jovem Palerosi – Ziyou

Segundo disco do produtor explora conceitos de liberdade voltados à percepção de sua própria música

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Ano: 2017
Selo: Tropical Twista Records
# Faixas: 8
Estilos: Experimental, Étnico, Ambient Music
Duração: 33:50
Nota: 3.0
Produção: Jovem Palerosi

Jovem Palerosi parece ir diretamente contra o que seu nome artístico propõe. Se a jovialidade pressupõe poucos anos de experiência, sua música mostrou em pouco tempo um conhecimento bastante pleno de produção musical, sempre a favor de criar paisagens sonoras que trouxessem um elemento melódico concreto, além de um experimentalismo marcante. O músico parece seguir a mesma escola do produtor mineiro Sentidor, na qual suas histórias e vivências estão diretamente relacionadas à forma como suas composições são construídas, tentando sempre revelar um significado menos concreto e mais onírico do que as inspirações factuais. Com seu segundo disco, as coisas não são diferentes, e Ziyou desvenda um universo de experimentações baseados em uma viagem para a China.

Neste disco, Jovem Palerosi vai além do estereótipo da Música Étnica, ousando com uma série de misturas com beats eletrônicos que procuram retratar mais do que a viagem física ao país, mas a transformação de suas percepções e experiências, uma vez inserido em contexto sócio cultural bastante diferente. Dessa forma, Ziyou é um álbum de transformação que implica no conceito chave do disco: a liberdade, cuja tradução para o mandarim dá nome a este registro. Liberdade esta que define sua sonoridade e o permite explorar de formas cada vez mais narrativas e sensoriais as suas próprias percepções. São oito faixas que misturam samples e desconstruções com arranjos Pop e, de certa forma, psicodélicos.

Ni Hao abre com sequenciadores frenéticos, compondo um ambiente extremamente influenciado pela arte digital, lembrando até mesmo algumas composições para Super Nintendo. Moseley Road já se apropria de elementos mais groove, lembrando um Toro Y Moi um pouco caótico e experimental. Chinateawn é sútil em ressignificar melodias de flautas de bambu típicas da música chinesa e aplicar em um contexto diametralmente oposto. Arpegg Dream é praticamente uma reverência a Aphex Twin, explorando timbres bastante melódicos, mas complementando com glitches e desencontros rítmicos. Já Mercúrio 3.1 pega esta mesma referência e trabalha de formas mais padronizadas, abusando de pads para criar uma aura bastante hipnótica. Por fim, Khayyam acaba somatizando todas estas experiências que Jovem Palerosi criou durante o disco, quase como uma faixa metonímica.

O disco do produtor é bastante audacioso e, desafiando seus próprios limites, ele procura dosar as diferentes influências de sua música e vida de forma harmônica – o que deixa bem claro seu talento enquanto arranjador, compositor e, por que não, tradutor de suas percepções. Um trabalho interessante e libertador.

(ZIyou em uma faixa: Khayyam)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique