Resenhas

A Banda Mais Bonita Da Cidade – De Cima Do Mundo Eu Vi O Tempo

Banda paranaense entrega um belo terceiro álbum

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Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 38:01
Nota: 4.0
Produção: Vinicius Nisi

O simpático coletivo curitibano está de volta com disco novo, o terceiro de sua carreira. De Cima Do Mundo Eu Vi O Tempo é mais um álbum no qual A Banda Mais Querida Da Cidade mostra seu talento e competência para assumir certo protagonismo na “cena Pop” brasileira. Coloco o termo entre aspas porque me pergunto o que seria isso hoje em dia. Certamente não seria nada contido ou proporcionado pela grande mídia, que obliterou a música jovem feita no país e a restringiu a dois gêneros, ambos criados por ela mesma como quem faz um pacote de macarrão instantâneo e vende como comida saudável. Tudo que está fora deste escopo restrito e artificial, simplesmente não existe para um número bem grande de pessoas. Gente que poderia, sim, se encantar com belas canções, arranjos competentes e qualidade de gravação, tudo o que está presente neste bonito trabalho.

Vemos maturidade por todos os cantos do álbum, ainda que saibamos que o grupo tem lenha pra queimar e estrada pra percorrer. A produção, a cargo do tecladista Vinicius Nisi, repetindo o posto do álbum anterior, é sóbria, segura e confere um talhe clássico para melodias lentas, que tentam privilegiar arranjos legais e letras personalíssimas, grande sacada dos sujeitos desde que surgiram há seis anos. Além disso, A Banda vem com algumas boas versões de canções alheias, fazendo como reza o Manual Dourado das Covers e Versões, no qual está escrito que um grupo deve fazer este tipo de gravação apenas quando tiver algo a acrescentar ao original ou quando for tomá-lo pra si. Do contrário, óbvio, já existe a primeira gravação, certo? Pois bem, aqui as coisas funcionam a favor também neste quesito, fazendo tudo fluir agradavelmente.

A prateleira de versões mostra uma opção nítida por composições atuais, abrindo mão do clássico padrão de revisita de outros tempos. Se formos pensar no tempo e em sua passagem como um tema conceitual para o álbum, tal apropriação se faz de forma bem sutil. Um bom exemplo é justo a escolha desses tempos lentos para alguns dos arranjos, criando bem estruturadas melodias. A partir disso, não importa muito se as composições são de outros ou da própria banda, tudo soa uniformizado neste padrão elegante. Tal movimento pode soar arriscado e levar o álbum para algum tom de monotonia, mas isso não acontece. Um bom exemplo é a ótima Suvenir, de Ian Ramil, que ganha uma roupagem bela, com especial destaque para o vocal de Uyara Torrente, que se divide entre o sofrimento e a doçura, conseguindo um belo efeito. Em A Pé a Banda assume influências que vêm de fora, especialmente de gente como Band Of Horses, com aquele Folk de guitarras harmoniosas e ascendência quase progressiva. Funciona.

A lentidão intencional da faixa de abertura, Inverno (com um belo instrumental que vai ganhando força à medida que a canção se instala) contrasta com uma abordagem mais vigorosa e próxima de uma MPB alternativa, caso da melhor gravação do álbum, a versão para a clássica Trovoa, de Maurício Pereira, que voa alto por aqui, ainda que o original e a leitura de Metá Metá, feita em 2011, sejam imbatíveis. Outros destaques vão para Bandarra (de Tibério Azul), A Geada, cujo arranjo retrata em música a sensação de olhar para um campo coberto de orvalho congelado de manhã e a sincera revisão de A Dois, de Los Porongas, todas redondas e no lugar certo em termos de intensidade, performance e efeitos. Com este álbum, não que fosse preciso, A Banda se posiciona como protagonista dessa música nacional subterrânea, rica, bem feita e consistente.

(De Cima Do Mundo Eu Vi O Tempo em uma música: Trovoa)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.