Resenhas

Lana Del Rey – Lust For Life

Compositora troca a introspecção por engajamento e maturidade ímpar em novo disco

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Ano: 2017
Selo: Polydor
# Faixas: 16
Estilos: Pop, Pop Alternativo, Chamber Pop
Duração: 71:56
Nota: 4.0
Produção: Lana del Rey, Emile Haynie, Rick Nowels, Benny Blanco, Kieron Menzies, Max Martin, Boi-1da, Mighty Mike, Metro Boomin, Sean Ono Lennon, Dean Reid e Jahaan Sweet

Lana Del Rey viveu mergulhada em si mesmo por muito tempo. Em mais de quinze anos de atividade, a cantora e compositora provou que suas canções, embora bastante melancólicas, funcionam como profundos e majestosos desabafos sobre sua vida, ora usando metáforas narrativas densas, ora trabalhando com um linguagem mais direta e jornalística. Com o passar do tempo, seus discos foram desenvolvendo cada vez mais a arte da introspecção, até chegar em Honeymoon, uma experiência definitiva e referência mundial no quesito sentimental e musical, misturando referências vintage com algumas pinceladas contemporâneas de Hip-Hop. Entretanto, o mergulho parece ter chegado ao fim com a chegada de seu quinto disco de estúdio, no qual ficou bastante claro que a vida em volta do mundo emocional de Lana tem maior destaque em sua obra a partir de agora.

Lust For Life é um disco para meus fãs”, relatou a cantora. Com uma certa dose de inventividade, Lana ainda manteve certos aspectos de sua musicalidade intactos, como o apego definitivo à orquestração, elementos dos anos 1950/60 e a vocais suaves. Entretanto, com tantos anos de carreira, a compositora agora entende sua função como artista e acompanha a evolução de seu público e da realidade que vive. Talvez por isso o disco tenha referências de Hip-Hop mais presentes e temáticas menos introspectivas, como o cenário político dos Estados Unidos, mesmo que não sejam totalmente abandonados aqueles temas introspectivos de outrora. Na verdade, Lust For Life trabalha justamente com esta reciprocidade de como a realidade afeta o dia-a-dia da cantora e de que forma ela altera a conjuntura sociopolítica de seu país de origem. Com essa complexidade em mente, fica evidente porque este é um dos trabalhos mais complexos de Lana até hoje.

Os singles Love e Lust For Life, com The Weeknd, nos fizeram acreditar que este disco seria sobre uma Lana mais sorridente e “apaixonada”, por falta de um termo melhor. Entretanto, eles apenas mostram uma parcela da complexa personalidade da cantora, já que a terceira faixa, 13 Beaches, evoca aquela personalidade soturna e melancólica de seu terceiro disco Ultraviolence. Já Summer Bummer e Groupie Love, as duas parcerias com A$AP Rocky, ressaltam esta mesma melancolia, porém alterando significamente a forma como ela é expressa, abusando de beats genéricos do Hip Hop, ainda que usando de instrumentações bastante criativas.

Até que somos surpreendidos por uma sequência tocante e engajada: começando com God Bless America – And All The Beautiful Woman In It, uma das mais profundas e pegajosas faixas do disco, passando por Beautiful People, Beautiful Probems, parceria fantástica com Stevie Nicks, e terminando com Tomorrow Never Came, dueto Folk com Sean Lennon que nos mostra que, na verdade, Lana nunca abandonou a introspecção, apenas a redefiniu. Por fim, Get Free encerra o disco com uma mensagem de liberdade, condizente com o american way of life tão adorado pela cantora, readaptado para os dias atuais conturbados politicamente.

Lust For Life é um trabalho complexo, assim como a mente de Lana. Trabalhando em diversas direções, temos um registro maduro que nos faz acreditar que estamos diante de mais um disco maçante de Lana quando, na verdade, temos em mãos o trabalho mais consistente da cantora até agora.

Um álbum sobre crescer e entender sua posição perante o mundo. Um álbum sobre o florescer de Lana Del Rey.

(Lust For Life em uma faixa: God Bless America – And All The Beautiful Woman In It)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique