Resenhas

Foster The People – Sacred Hearts Club

Grupo avança na experimentação dançante e bastante Pop

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Ano: 2017
Selo: Columbia
# Faixas: 12
Estilos: Pop Alternativo, Pop, Dance Alternativo
Duração: 41:36
Nota: 4.0
Produção: Mark Foster, Isom Innis, Josh Abraham, Lars Stalfors e Oligee

Quem ouviu Pumped Up Kicks há seis anos (tempo voa!) constatou, logo de cara, que Foster The People não era mais uma bandinha surgindo. A melodia, o refrão ganchudo, a fusão de sons descartáveis com Pop dourado atemporal mostravam que o grupo de Los Angeles tinha algo diferente. Veio o segundo álbum, Supermodel, em 2014, e a sonoridade continuava muito acima da média e apontava, sobretudo, para um grupo que tinha recursos criativos ainda maiores do que a boa estreia apontava. Agora, três anos depois, chega este sensacional terceiro disco, Sacred Hearts Club, um flerte consumado em namoro firme, com batidas eletrônicas de natureza funky, acenos ao Pop do fim dos anos 1980 e de hoje, com bom senso e noção exata do que está sendo feito. Mais que isso: uma afirmação de estilo e marca registrada em meio a uma música feita hoje em escala industrial. Foster The People cresceu e pede para entrar no time dos grandes.

A impressão que as doze faixas do disco passam é de que Mark Foster e seus amigos e produtores voltaram suas lentes para a interseção Pop contida na sonoridade das boy bands, especialmente Backstreet Boys, New Kids On The Block e N’Sync, as melhores surgidas nos últimos 20 e tantos anos. Não é segredo para ninguém que, por trás desses grupos, havia um time de produtores e compositores de primeira linha, responsáveis pelo estofo musical necessário para os cantores desfilarem rostinhos bonitos para a audiência. Enquanto isso acontecia nos palcos, a turma do estúdio elaborava canções de alto nível, com arranjos e refrãos grudentos, feitos sob medida para colar nos cérebros da audiência e justificar a audição dessas canções por tanto tempo. O que Foster consegue neste álbum é a ampliação dessas qualidades musicais, misturando-as com certo experimentalismo atual, uma boa dose de talento nas suas próprias composições e arranjos e incursões nos caminhos abertos por Michael Jackson e Prince em seus momentos mais acessíveis. O resultado é ótimo.

Dadas a noções artísticas do disco, o maior elogio possível é dizer que ele poderia ser lançado em 1987 sem qualquer problema. Seria sucesso, conquistaria a audiência e teria várias canções nos primeiros lugares das paradas. Aliás, a habilidade na confecção das melodias é notável. Não há um único momento em que ouçamos algo ruim ou sem graça. Tudo é bem feito, os refrãos são infecciosos na medida e há vários detalhes legais ao longo das faixas, uma percussão aqui, um arranjo de cordas ali, uns vocais de apoio acolá, tudo conectado com a proposta ambiciosa de reinvenção e definição sonora que a banda propõe. As quatro primeiras canções, Pay The Man, Doing It For The Money, Sit Next To Me e SHC são variações gloriosas do Pop mais dançante e melodioso para aquele em midtempo, com andamento intermediário. A quinta canção é o primeiro diamante que o álbum apresenta, a ótima I Love My Friends, justamente com uma batida mais “noturna” e rápida, a faixa é “experimental” em timbres, especialmente em relação às canções anteriores, mas traz um refrão feito em laboratório para não sair da mente do ouvinte.

Static Space Lover, um dueto com a cantora e atriz Jena Malone, parece saída de uma compilação de raridades da Motown dos anos 1980, cheia de surpresas melódicas e doçura vocal, chegando a exibir um experimentalismo à la Beach Boys. Lotus Eater cutuca quem já estava acomodado nos beats aveludados e traz um arranjo de guitarras e vocais um pouco mais invocados que o normal, mostrando que o Rock também pode ser reprocessado e inserido neste contexto popíssimo. Time To Get Closer é a baladona protocolar naqueles tempos, totalmente atualizada para estes tempos sem música romântica lenta, com vocais e arranjo que parece submerso numa piscina. Loyal Like Sid & Nancy é outro aceno Rock em termos de temática, mas com sonoridades mais techno que o resto do álbum, mais instigante porém sem abrir mão das convenções propostas. Harden The Paint tem sonoridades que poderiam ser de um Jackson 5 noturno e atual, enquanto III encerra o disco com um Synthpop totalmente 2017, fazendo as vezes de uma viagem curta pelo espaço-tempo, que retorna para seu ponto de partida.

Sacred Hearts Club é diferente dos outros trabalhos de Foster The People, apontando para uma incessante busca por identidade musical. No meio do caminho, vão deixando grandes canções, exibindo resultados que deixam o ouvinte esperando ansioso pelo próximo. Maravilha.

(Sacred Hearts Club em uma música: Static Space Lover)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.