Resenhas

Far From Alaska – Unlikely

Segundo disco da banda potiguar traz maturidade aliada a peso muito bem produzido

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Ano: 2017
Selo: Elemess
# Faixas: 12
Estilos: Stoner Rock, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 45:00
Nota: 3.5
Produção: Sylvia Massy

Dez nunca foi o volume mais alto para Far From Alaska. Uma das revelações brasileiras mais interessantes dos últimos cinco anos, o grupo potiguar conquistou um espaço bastante escasso no cenário do país hoje. Eles preencheram aquele espaço entre o pesado e Pop, sem necessariamente abrir mão de nenhum dos dois. Suas apresentações frenéticas e caóticas, no melhor sentido que a palavra possa oferecer, varreram quaisquer dúvidas que o público ainda tinha sobre se tudo aquilo não passava de mais uma banda super produzida e bem assessorada: Far From Alaska tinha muito a dizer. Três anos se passaram desde seu explosivo disco de estreia Modehuman, e é plausível dizer que muita coisa mudou desde então. A prova final disso ficou por conta de seu novo trabalho, uma das explosões mais fantásticas do ano.

Unlikely é um ótimo exemplo de como as dificuldades de um segundo disco podem ser superadas. Aqui, aquele sentimento de explosão conhecido do álbum de estreia continua presente nas doze composições, mas parece que esta bomba é algo que vem de dentro dos integrantes. O peso vem de frustrações e pensamentos internalizados e, talvez por isso, cada faixa tenha um nome de animal, com exceção de Pizza, simbolizando os diferentes humores e características de cada uma destas emoções. Sonoramente, temos um Far From Alaska que soube evidenciar as melhores qualidades de seus arranjos e trabalhar em conjunto com Sylvia Massy (System Of A Down, Tool) para produzir o melhor e mais claro som possível. As faixas também permanecem naquele meio termo entre o Rock e o Pop e, se isso é possível, aproximam ainda mais as diferenças entre esses dois gêneros, quebrando qualquer tipo de estereótipo roqueiro que ainda insista na separação dos dois.

O single Cobra já denuncia a influência clara do Stoner Rock, com simples riffs de baixo distorcido e uma bateria explosiva que reforça o simbolismo traiçoeiro da serpente. Flamingo traz uma graciosidade com sintetizadores oitentistas aliada à fúria de um refrão estridente que não deixa espaço para nada além dos vocais de Emmily Barreto. Pig tem um riff com toque blues interessantíssimo que entrosa com os duetos oitavados de guitarra e baixo, lembrando bastante Royal Blood. Monkey é quase uma homenagem a Rage Against The Machine, com uma dose saudável de Funk Americano e New Metal. Armadillo reafirma novamente a influência Blues e ainda explora efeitos de guitarra que vão muito além da distorção, algo que Tom Morello certamente ficaria orgulhoso de ouvir. Já Slug é uma das faixas mais lentas do disco mas, ironicamente, ela também se comporta como o ponto mais pesado, abusando de microfonias e ruídos e colocando um vocal extremamente melódico antes do refrão implosivo. Por fim, Coruja traz o disco para uma melancolia e soturnidade únicas, encerrando este registro com uma última explosão.

Unlikely marca o surgimento de um Far From Alaska mais maduro e que respeita as tradições que seu disco de estreia colocaram. Há uma dose precisa de inventividade e um investimento pesado em produção, responsável por tirar o melhor de cada instrumento. Ironicamente, a meticulosidade com a qual são tratados os instrumentos trouxe à tona um peso único que destaca este disco. Um marco no Rock brasileiro.

(Unlikely em uma faixa: Pig)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique