“Mesmo com todo peso do mundo é possível flutuar”. Essa frase presente no release de Softspoken serve como um farol e ajuda o ouvinte a se orientar no Shoegaze revolto e turvo que The Sorry Shop cria em seu terceiro álbum.
Sucessor de Mnemonic Syncretism, lançado em 2013, este disco tem uma cara diferente e ainda que não seja monotemático, tem uma amarra em sua canções que fazem aquela frase do release ter todo sentido. Temas como isolamento social, depressão e apatia aparecem entre as faixas, sempre através de uma poesia introspectiva e vocais baixos e ecoantes (típicos do estilo), apresentados sempre de maneira letárgica e melancólica.
Musicalmente, o grupo não foge muito da premissa do Shoegaze, com seu wall of sound, melodias ecoantes e vocais tímidos dentro de um mar de Noise. As novidades ficam pelas pinceladas aqui e ali do Dream Pop, concedendo uma leveza ainda maior para algumas das faixas. Ainda que bem encaixadas dentro da pedra fundamental criada por My Blood Valentine em Lovelles (talvez o maior representante do que é o Shoegaze), as músicas conseguem se entrelaçar bem e criar uma espécie de narrativa sensorial – que vai crescendo em volume e estímulo ao longo das onze canções.
Softspoken é até então o disco mais ambicioso do grupo e, com certeza, o mais maduro. Não foi à toa que Régis Garcia e companhia demoraram quatro anos para completar a obra pela segunda vez – sendo que um primeiro rascunho do disco foi completamente descartado em 2014. O resultado é como enfrentar uma tempestade no Mar Morto, ainda que as águas estejam inquietas e agitadas, é possível flutuar e não se afogar (talvez uma metáfora para a própria vida).
(Softspoken em uma faixa: Keepsake)