Resenhas

Pavilhão 9 – Antes Durante Depois

Veterano grupo de Rap voltar com disco em sintonia com o tempo atual

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Ano: 2017
Selo: Deck
# Faixas: 10
Estilos: Rap Alternativo, Hardcore, Hip-Hop
Duração: 29:41
Nota: 3.5
Produção: Pavilhão 9 e Daniel Krotoszynski

Direto do bairro do Grajaú, Zona Sul de São Paulo, retorna Pavilhão 9, depois de onze anos de silêncio. O vocalista mascarado Rhossi ainda é o homem a “dar as caras” à frente da banda, subindo ao palco, “representando o povo”, segundo declarações recentes, apontando os responsáveis pela miséria velha-nova do país. Mesmo que a sonoridade que permeia Antes Durante Depois seja calcada no velhusco Rap Metal, algo que ultrapassa o adjetivo “datado” e adentra os domínios de outro adjetivo, “monótono”, é louvável qualquer mínima iniciativa adotada por músicos brasileiros para criticar e se manifestar sobre o estado caótico que nossa sociedade atravessa neste último ano. Sendo assim, ainda que por caminhos tortos, este novo álbum do grupo assume ares de sinceridade, necessidade e uma relevância quase heroica.

O cardápio é maior que a injustiça da polícia nas comunidades, chegando ao campo da corrupção, da inversão de valores e desta catarse de maldade interior que parece ter lugar nos dias de hoje, quando ignorantes enaltecendo terra plana, nazismo de esquerda, supremacistas brancos, fascistas de um modo geral, parecem ter brotado como gremlins expostos à luz do dia. O grupo paulistano tem nova formação: aos fundadores Rhossi e Doze se juntaram o baterista Leco Canali (ex-Tolerância Zero), o baixista Heitor Gomes (ex-Charlie Brown Jr) e o guitarrista Rafael Bombeck. A presença deles potencializou a parte “metal” que sempre esteve presente no DNA do coletivo, tornando a sonoridade dos sujeitos mais próxima de grupos como Rage Against The Machine – nos bons momentos – e Planet Hemp – nos maus. De qualquer maneira, seria mais interessante uma guinada em favor do Rap, algo que mostraria um poder de fogo maior, creio.

Este seu sétimo disco carrega nas faixas curtas, tendo tempo total inferior a 30 minutos, o que facilita a transmissão das mensagens nesses tempos tão imediatistas. A indignação com a corrupção é a mola mestra do álbum, com a banda capitalizando, justamente em meio à omissão de muitos de seus pares, sobre a situação do país. Menções explícitas estão na letra de Tudo Por Dinheiro, o primeiro single: “Com dinheiro se compra, se prende, se solta”, algo que precisa sempre ser dito. A faixa também fala sobre a subserviência das pessoas ao “mercado”, aos índices de reajuste, enfim, à cultura erguida pelo neoliberalismo. Acredita Não Duvida fala de associação de políticos com tráfico de drogas, conclamando a população a se informar, enquanto toma cuidado para não votar neles nas próximas eleições. Rhossi disse em entrevistas recentes sobre o álbum, afirmando a existência de um anseio da população por um som mais crítico, e a intenção é chegar aos ouvidos principalmente dos jovens. “A gente quer colocar esses temas em evidência sem ser taxativo, quer fazer as pessoas pensarem”.

Com produção enxuta – a cargo da banda e de David Krotoszynski – tornou o conteúdo do álbum afiado, como deve sempre ser em casos assim. É disco de retorno, de reencontro e retomada de crítica social, infelizmente com muito assunto para falar. Mesmo que uma opção sonora mais arrojada valesse ser pensada, o resultado é um trabalho enxuto, certamente capaz de agradar ao ouvinte do grupo e encantar neófitos. Com pedigree na periferia, tempo de janela e antiguidade como posto, Pavilhão 9 assume uma postura necessária em tempos como os de hoje, nos quais a omissão pode ser o maior dos crimes.

(Antes Durante Depois em uma música: Tudo Por Dinheiro)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.