Resenhas

Dent May – Across the Multiverse

Cantor, produtor e multiinstrumentista faz disco sensacional

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Ano: 2017
Selo: Carpark Records
# Faixas: 11
Estilos: AOR, Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 42:11
Nota: 4.5
Produção: Dent May

De vez em quando surge um sujeito como Dent May. Um Nerd de música, vinte e tantos/trinta e poucos anos de idade, parecendo sair da capa do primeiro álbum de Weezer, com extremo apuro para o Pop dourado anglo-americano dos anos 1970, tocando todos os instrumentos e se produzindo. Lançam discos independentes, tocam em buracos anônimos, mas chegam aos ouvidos da crítica especializada, cativam um público pequeno-médio e tocam suas vidas. Ao final das contas, de dentro de seus quartos, fazem álbuns absolutamente sensacionais, que passam despercebidos pelos ouvidos de gente que certamente gostaria deles. Todas essas circunstâncias servem para definir Dent e seu quarto álbum, o exuberante Across The Multiverse, que grudou na vitrola virtual deste amigo de vocês e não parece querer sair. E isso é bom.

Dent começou a tocar ukulele em seu Mississippi natal, pulou logo para a guitarra e vários outros instrumentos, mas sua tara era por música para dançar. Gravou o primeiro disco sobre este gênero, improvisando em engenhocas eletrônicas de baixo custo. Depois de algum tempo, mudou-se para Los Angeles em busca de inspiração, uma vez que sua música tem muito a ver com o Pop californiano setentista, só que revisitado e reprocessado por esta nerdice caprichosa, que o faz misturar essas noções gentis de música para ouvir com letras de amor e desencanto, típicas de quem vive sozinho, colocar umas músicas pra tocar no clubeco da esquina, flerta aqui e ali sem muito êxito e volta pra casa antes do amanhecer. Acrescente a esta vida o talento para compor e tocar vários instrumentos e você terá o próprio Dent, olhando para você. Tudo é tão bem feito ao longo das onze faixas de Across The Multiverse, que os mais velhuscos sentirão vontade de jogar uma boa partida de Pac Man ou Space Invaders. Tudo por aqui é ensolarado, melódico, com brisa do mar batendo no rosto e um meticuloso apuro técnico de manutenção deste patrimônio imaterial do pop solar.

O norte de inspiração de Dent é a fase 70’s e menos conhecida de The Beach Boys e todas as inúmeras bandas que beberam nessa fonte, conhecida como Yatch Rock ou AOR. São pequenas composições Pop mas intrincadas o bastante para revelar o brilho de um refrão, de uma solução melódica ou o carinho/elegância de algum detalhe no arranjo, na execução. É um trabalho de amor, que acaba por levar o fã de música mais jovem para passaear pela Pacific Coast Highway num conversível de capota abaixada. Já não se faz isso há tanto tempo que soa novo e inédito para uma grande parcela de ouvintes/leitores. Além do mais, sempre haverão ouvidos dispostos a perceber a belezura dessas canções.

Quando for ouvir, jovem, siga este pequeno roteiro de delícias: preste atenção na levada pianística e no falsete de Hello Cruel World; ache bonitinho o som de modem conectando logo no início de Picture On A Screen e a maneira como ele vai sendo engolido pela melodia perfeita; ache fofos os teclados da faixa-título, que simulam cordas; observe o piano martelado que conduz Dream 4 Me e deslize na levada slow jam noturna de Take Me To Heaven; emocione-se com a ambiência sessentista de luz do luar na serenata para o amor do colégio que é 90210; impressione-se com o timbre de bateria e baixo que tornam Face Down In The Gutter Of Your Love e veja como a voz de Dent está parecida com a de Brian Wilson. Prepare-se para o fim do disco que já desponta lá na frente, mas preste atenção no piano pungente que reveste A Little Bit Goes Away; note o bailado de pianos e cordas em Don’t Let Them enquanto ri do clima gaiato de obviedade nerd que é I’m Gonna Live Forever Until I’m Dead e venha pousar no sonho que é Distance To The Moon, fechando o percurso de onze canções. Nem demorou, viu?

Este álbum é um bombom sonoro. Ele vai conquistar e fazer sonhar o mais embrutecido dos seres e fazer com que todos tenham seu tempo garantido de contemplação do Pacífico num belo por de sol. Pelo menos este é o objetivo dessas canções, deste disco. Não resista.

(Across The Multiverse em uma música: Hello Cruel World)

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BOM PARA QUEM OUVE: Night Moves, Tennis, Girls
ARTISTA: Dent May

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.