Resenhas

Gogol Bordello – Seekers and Finders

Banda multinacional faz álbum na zona de conforto

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Ano: 217
Selo: Cooking Vinyl
# Faixas: 11
Estilos: Gypsy Punk, Folk Alternativo, Rock Alternativo
Duração: 37:46
Nota: 3.5
Produção: Eugente Hutz

A essa altura do campeonato musical planetário, Gogol Bordello não parece interessado em converter mais nenhum ouvinte. Isso não significa uma acomodação por parte do grupo globalizado, liderado pelo ucraniano Eugene Hutz, pelo contrário, é uma admissão de domínio de sua arte e noção de seus limites. Isso também não quer dizer que o grupo perde ouvintes, pelo contrário, segue numa política de total fidelização de seus convertidos – que são muitos – e até inova seu som, na medida do possível. Tem de tudo em algum momento do disco, tornando o grupo quase um equivalente sonoro de um filme de Quentin Tarantino, o que é bom. A mistureba é tamanha que o rótulo que define a própria banda desde seu início – Gypsy Punk – só está aí em cima por uma questão de formalidade. O som e multidisciplinar e anárquico, como se espera de gente como essa.

Seekers And Finders tem um pouco de bang-bang italiano em sua sonoridade. Parece música feita por bandoleiros fugitivos a caminho do México, que, na verdade, são sujeitos que emigraram de algum lugar da Península Balcânica, com passagem pelos subúrbios de Dublin no meio do caminho. Essa confusão geomusical se dá por conta da produção de Eugene, que pega emprestados todos os referenciais de pancadaria sonora em andamento rápido, para conferir um clima de cavalo dando pinote enquanto ouvimos o que sai das caixas de som. As canções pouco importam em termos de estrutura, você sabe que elas guardam – todas elas – um momento em que a bateria vai acelerar e você vai pular como pipoca, ainda que não queira. Faz parte da experiência.

O disco tem alguns detalhes interessantes. Na faixa-título surge a voz doce e inesperada de Regina Spektor, fazendo um dueto eslavo bem bacana com Hutz, em meio a metais mariachi e guitarras contrabandeadas de Tijuana por um atravessador paraguaio. Em seguida surge a ótima Familia Bonfireball, que já começa com guitarras empoeiradas e bateria com crise de ansiedade, pulsando em velocidade estonteante. A melodia chama atenção pela belezura/lindeza que exibe e os vocais rascantes de Hutz contrastam com o ambiente. No fim das contas é mais uma história de ciganos malucos que podem estar em qualquer lugar, sobre alguém num circo, que fugiu e nunca mais foi visto na imensidão de algum deserto. Pode checar, sempre tem dessas coisas nessas histórias.

Outro elemento que bate ponto no caldeirão musical do grupo é o Reggae e ele está presente em Clearvoyance, ainda que de forma bem sutil, apenas pontuando a linha de baixo e algo nas guitarras. Guitarras, aliás, que dominam totalmente a encrespada Saboteur Blues, que ainda traz violinos fora da escala e vocais gritados, na única canção com alma mais Punk do álbum. Love Gangsters também vem nesta onda, mas tem um instrumental com levada mais dançante e funky. Ha bobagens também, claro. If I Ever Get Home Before Dark é arrastada e caricata além da conta, enquanto Still That Way também exagera na ironia e passa do saudável lugar de canção de bêbados triunfantes para algo bobo e além da conta. Entre elas, um Funk Reggae torno, turbinado por bandolins e outros instrumentos estranhos, You Know Who We Are, mostra que há alma por aqui.

Ao final das contas, Seekers And Finders é um disco bem feito, bem gravado e produzido na medida para encantar os admiradores da banda. Padrão sonoro intacto, anarquia na medida certa (uma boa contradição, não?) e a marca musical preservada. Tá de bom tamanho e passa a régua.

(Seekers And Finders em uma música: Familia Bonfireball)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.