Resenhas

Deerhoof – Mountain Moves

Banda experimenta sem abrir mão do acento Pop

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Ano: 2017
Selo: Joyful Noise
# Faixas: 15
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônica
Duração: 39:12
Nota: 4.0
Produção: Deerhoof

Cá estamos com o décimo-quarto álbum de Deerhoof, Mountain Moves. Se há uma banda da qual podemos esperar surpresas e continuações pouco ortodoxas, o quarteto de São Francisco é um dos nomes no topo da lista. Os sujeitos são capazes de enveredar por uma forma de Pop que abraça modernidade, experimentação e Eletrônica, tudo em medidas equilibradas, que fornecem uma liga musical de qualidade altíssima, sempre capaz de agradar aos admiradores de doideiras coloridas em forma de bolotas saltitantes, bem como os fãs de estruturas rítmicas mais convencionais, arranjos com instrumentos “de verdade” e demais instância um tanto conservadoras. Com conciliação e sem abrir mão de convicções, Deerhoof segue mandando bem.

São quinze faixas, algumas pouco maiores que vinhetas, que são posicionadas no álbum como versões/apropriações de canções alheias, num espectro que vai da compositora chilena Violeta Parra (em Gracias a La Vida), passando pelo grupo dos anos 1960/70 The Staple Singers (em Freedom Highway), para chegar em ninguém menos que Bob Marley no encerramento do disco, com Small Axe. Tais versões dão profundidade e diversidade a Mountain Moves, algo que soa novo em termos de Deerhoof, mas que faz todo o sentido. Além dessas apropriações climáticas e curtas, a banda ainda traz um time interessante de convidados, entre eles, o rapper Awkwafina e as cantoras Juana Molina e Laetitia Sadier, outra ideia que amplifica o poder de fogo do trabalho.

A banda consegue imprimir sua marca em vários momentos. Há um Pop amigável e afetuoso, presente em momentos como Con Sordino, que se vale de uma melodia assoviável e redonda, delicadamente levada para passear numa alameda de possibilidades não convencionais, deliciosamente sensuais e instigantes. A faixa de abertura, Slow Motion Detonation, com Molina, é um exemplo de canção em câmera lenta, não só pela alusão do título, mas pela levada em velocidade estranha, com efeitos na medida certa para não distrair a atenção da melodia. A faixa com Laetitia é um inesperado Funk oitentista com ressonância até de colossos atemporais como Let’s Dance, de David Bowie, especialmente na levada vigorosa de guitarra, baixo e bateria. Destaque para a competência da cantora, que pouco ou nunca se aventurou por estes caminhos mais balançados. Outra belezura é a participação do rapper Awkwafina, com a sintomática Your Dystopic Creation Doesn’t Fear You, que é uma canção linear com belos comichões de guitarra.

Outros momentos ao longo do álbum soam interessantes, porém, menos inspirados. Palace Of The Governors tem ambiências que evocam cordas sintetizadas e batidas suingadas, mas se perde na pouca duração e em promessas que não se concretizam; Begin Countdown também promete uma evocação guitarrística em uma levada cheia de balanço, mas, justo quando o ouvinte entra no clima, a canção se extingue. Apesar disso, são poucos equívocos. Até o fim do disco, outras duas canções dão o tom: Kokoye, com teclados lisérgicos sessentistas e vocais suspensos no tempo e Aye That’s Me, aerodinâmica e cheia de ventos esvoaçando os cabelos do ouvinte.

Com inteligência e diversidade, Deerhoof crava mais um belo trabalho que vai fazer a cabeça dos fãs e pode cair nas graças do ouvinte ocasional. Ambicioso, privilegiando melodias e inteligência, Mountain Moves é uma ótima entrega.

(Mountain Moves em uma música: Con Sordino)

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BOM PARA QUEM OUVE: Shugo Tokumaru, Dirty Projectors, Beck
ARTISTA: Deerhoof

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.