Resenhas

Wolf Alice – Visions Of A Life

Banda inglesa lança segundo álbum diverso e promissor

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Ano: 2017
Selo: Dirty Hit
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 46:19
Nota: 3.5
Produção: Justin Meldal-Johnsen

Há uma parte da crítica especializada dando status de “obra prima” a este segundo álbum da banda londrina Wolf Alice. Calma, né, gente? Devagar com o andor que o santo é de barro. Você, leitorx, pode invocar o provérbio idoso de sua preferência, contanto que não compartilhe deste entusiasmo hiperbólico dos nossos colegas gringos. O fato é que Visions Of A Life é um disco agradável, porém, bastante simples e com material insuficiente para ser essa maravilha que alguns estão achando no além mar. Isso, porém, não o torna ruim ou desinteressante. É apenas mais um álbum de mais uma banda, e só.

Wolf Alice tem, a rigor, dois charmes: o vocal/presença de Ellie Rowsell, guitarrista e principal cantora do grupo, que tem em sua persona um pouco de Elizabeth Fraser e Harriet Wheeler, duas musas dos anos 1990, cada uma a seu jeito e brilho em diferentes intensidades. Outro atrativo, mais uma demonstração de inteligência/talento do que charme, é que Wolf Alice tem um certo mimetismo musical que a torna capaz de brincar nos quintais do Rock Alternativo mais clássico e noventistas, evocando as bandas das moças aqui citadas, respectivamente, Cocteau Twins e The Sundays, mantendo personalidade e exibindo traços distintivos que evitam a cópia pura e simples. Há uso inteligente de guitarras atmosféricas e melancolia inglesa, dois elementos-chave para o encanto acontecer. Há, porém, dentro dessa ideia de mimetismo, um abraço a uma sonoridade mais dançante e barulhenta, fazendo com que a banda não seja facilmente encapsulada no terreno das formações climáticas e tristonhas. Dá pra traçar paralelos com gente como Hole e Elastica. E isso é bem bom.

Este novo trabalho mostra que Wolf Alice está pronto para dar passos mais largos. O recrutamento do produtor Justin Meldal-Johnsen, responsável pela pilotagem de estúdio em discos de gente tão distinta e legal quanto M83, Young The Giant e The Raveonettes, mostra que o grupo pretende mudar de prateleira no depositário do Rock inglês atual. A julgar pelo resultado e pelas qualidades apontadas aqui em cima, é possível dizer que, sim, há algo interessante na banda para justificar certa euforia. Talvez seja a capacidade dos sujeitos em escrever boas melodias e exibir uma criatividade quase latente, que passa para o ouvinte quando surgem pequenos momentos como a ambiência de guitarras de Heavenward, por exemplo, reforçando o parentesco com as formações noventistas. Porém, não vamos tão rápido.

Mais adiante, surge uma bela rendição ao Pop de guitarras mais marcadas e bateria presente, Beautifully Unconventional, que conquista pela simpatia/quase amor. Daí chega o encantamento noturno e sexy de Don’t Delete The Kisses, a melhor canção do disco, com uma ambiência oitentista elegantíssima e vocais angelicais que suscitam pensamentos inapropriados para este horário. Quando pensamos que o arsenal de Wolf Alice se esgotou, vem Yuk Foo, uma cançoneta alternativa/noventista de pouco mais de dois minutos, com guitarras altas, vocais gritados e a impressão de que estamos ouvindo alguma demo de gente como Breeders ou similares. E o sorriso surge no rosto do crítico.

Wolf Alice pode ainda não estar pronta para ser a Coca-Cola toda que muitos estão dizendo, porém dá pra imaginar a banda como algo interessante e genuinamente legal em pouco tempo. Vamos acompanhar.

(Visions Of A Life em uma música: Don’t Delete The Kisses)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.