Resenhas

Ibeyi – Ash

Temas iniciados no primeiro álbum ganham novo contexto em forma e conteúdo

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Ano: 2017
Selo: XL Recordings
# Faixas: 12
Estilos: Neo Soul, Indie R&B, Eletrônica
Duração: 39'
Nota: 4.0
Produção: Richard Russel

Em conversa ao Monkeybuzz há quase um ano, Lisa-Kaindé Diaz – uma das gêmeas que formam o duo Ibeyi – afirmou que seu primeiro e homônimo álbum era sobre “fantasmas”, por tratar dos falecimentos do pai e de uma irmã mais velha. Com isso em mente, seu segundo trabalho parece ter exorcizado o tema da perda e se preocupa mais com o quinto estágio do luto, a aceitação, e com a forma como o passado impacta o presente na percepção que o indivíduo tem de si – como o kintsugi de papel que a capa apresenta.

I Carried This for Years inicia Ash com a repetição de seus versos, como se o mantra reforçasse o tempo passado em contraposição ao presente para, em seguida, o verso “I feel the pain, but I’m alive” servisse como clímax da segunda música, Away Away. A partir daí, ao longo do disco, Lisa e Naomi constróem narrativas mais focadas no hoje, mas sem nunca perder a perspectiva das perdas que sofreram – Valé, por exemplo, parece expressar as saudades da irmã.

Ao contrário de Ibeyi, que trazia um clima bastante específico na maioria das faixas, com batidas eletrônicas contrapondo a cultura iorubá, Ash aposta em uma variedade sônica maior, entre músicas que continuam o que o álbum anterior propôs e outras que apontam caminhos que expandem a obra do duo para outros lados, seja em um aspecto mais Pop (Me Voy, I Wanna Be Like You) ou, na direção oposta, em uma Eletrônica ainda mais densa (Numb, Waves).

Suas raízes afro-caribenhas seguem presentes por todo o registro, mas agora elas parecem assimiladas naturalmente à maneira que as artistas veem sua música, seja na percussividade ou nos côros. Um aspecto experimental continua sempre presente, ainda mais para cantar temas como o racismo (Deathless) ou o feminismo (No Man Is Big Enough for My Arms), o que insere as irmãs ainda mais em um contexto bastante contemporâneo.

Ash é, portanto, um disco bastante completo, robusto, que sabe expandir seus temas dos mais íntimos aos mais globais sem perder sua liberdade criativa, nem ignorar a identidade iniciada no primeiro álbum, seja em forma ou conteúdo. Ibeyi segue como um dos nomes mais interessantes de sua geração justamente por isso, pela fluência ao tratar inspirações, referências e intenções de forma tão impactante quanto prazerosa.

(Ash em uma música: Away Away)

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ARTISTA: Ibeyi

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.