Como álbum, Heart Sky tem uma sólida unidade entre suas onze faixas, um compilado de melodias de doçura e candura de difícil negação. O tom ensolarado das composições veio de uma viagem da norte-americana Emily Yacina ao Alaska, de onde voltou com o novo projeto na cabeça e nos rascunhos dos cadernos.
Criado através de gravações caseiras e competentes, o disco deixa evidente o prazer da cantora em experimentar com sua voz, multiplicando e aplicando efeitos diversos e presentes em todas as faixas. O resultado seria algo como se Mallu Magalhães começasse a realizar experimentos com seu vocal inspirada no repertório de Kanye West, uma combinação interessante e um experimentalismo que vai na maré contemporânea de unir orgânico ao tecnológico.
Apesar do calor humano, contrastante com o estado de origem das composições, Heart Sky parece insistir em um padrão que começa a se tornar repetitivo ao final da obra. Apesar das cores vibrantes que escolhe, como as que compõem a capa que acompanha o lançamento, elas pouco variam e se mantêm dentro de uma paleta limitada. Bela, porém com pouca diversidade de tons.
Na outra mão, há uma poesia acessível e que se recusa a ser pessimista, que pode servir como porta de entrada para outros artistas, como Elliot Smith. Apesar de abstratas, as letras falam de situações pessoais de relacionamentos mal acabados e suas voltas por cima, mas pouco escapam de finais onde a moral é, inevitavelmente, “tudo vai ficar bem”.
No fim, a curiosidade da compositora sobre as formas como sua voz pode ser gravada e distorcida para servirem como ferramenta de expressão para seus sentimentos acaba sendo mais interessante do que os resultados dos experimentos em si, mas é motivo suficiente para uma audição e acompanhamento de sua carreira. A música, assim como o mundo, é feita pelos curiosos.
(Heart Sky em uma faixa: You Know You Can Find Me)