Resenhas

Metz – Strange Peace

Trio canadense entrega disco com altíssimo Rock garagista

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Ano: 2017
Selo: Sub Pop
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Garage Rock, Garage Punk
Duração: 36:07
Nota: 3.0
Produção: Metz, Steve Albini

“Olá, você tem 36 minutos para ouvir a santa palavra do Garage Rock?” – é isso que o terceiro disco do trio canadense Metz, Strange Peace, pede ao ouvinte logo no início de sua jornada por onze faixas. Se tudo sair de acordo com o esperado, elas atingirão o (in)feliz bem no meio dos olhos, como se fossem uma frota de jamantas desgovernadas. Não é exagero e nem é música pesadona, é apenas uma mistura de volume altíssimo, dissonância, vontade de arrebentar vidraças e, talvez, um certo conceito. Uma olhada pregressa na carreira dos sujeitos dirá que, sim, o ofício deles é esse mesmo. Atacar os tímpanos alheios.

Vejam, nadíssima contra o volume alto, certo? Sabemos que é parte indelével do Rock e faz bem, dependendo, claro, da vontade do freguês. Nem sempre estamos com vontade de destruir tudo e todos explodindo os cérebros dos nossos inimigos pelo caminho de casa para o trabalho – se bem que o que Metz propõe aqui é um exercício de estilo, uso dessas figuras comuns ao estilo – guitarras altíssimas, bateria bate-estaca, baixo pulsante e voz gritada – enquanto “reflete” sobre a condição humana no planeta e o quanto tudo isso vai fazer com que tudo exploda em algum momento do futuro próximo. Sim, é niilismo musical, feito sob medida.

A banda produz o álbum, mas conta com o reforço de Steve Albini na engenharia sonora, o que significa certo conhecimento de causa por parte do homem que assinou vários álbuns-chave do início dos anos 1990, certamente a fonte maior de inspiração sonora para Metz. A barulheira que sai das caixinhas de som tem origem na interpretação noventista do Punk e do Garage Rock, algo que gente como Pixies costumava fazer com muita inteligência e, sobretudo, bom humor – algo que falta aos canadenses – e que contribui bastante para a curtição deste tipo de experiência. Também há certo tom de Stooges em algum canto dos vocais e do clima claustrofóbico que certas canções atingem, caso específico de Cellophane, que até parece uma cover, tamanho o seu jeitão “Detroit, 1974”.

O gosto pessoal deste que vos escreve, prefere, como dito acima, a mescla dessa pancadaria com algum acepipe sonoro. É como preferir um drink legalzão a uma dose de whisky cowboy, por exemplo. Das misturas, das mudanças, das releituras surgem algo novo e palatável. As canções do disco, no entanto, mostram, todas, uma produção muito esmerada, totalmente capaz de viabilizar o ataque sonoro a que a banda se dispõe. Não há espaço para firulas, o recado é dado de forma curta e grossa e ponto final.

Com destaque para a abertura cavernosa de Mess Of Wires, a paranoia psicodélica de Caterpilar, o soterramento de guitarras de Lost In Blank City, além da fúria de Sink, o álbum cumpre o que promete lá naquela frase que verbaliza – nas entrelinhas – para o ouvinte. Se aceitar, prepare-se para conviver com ouvidos apitando por um bom tempo.

(Strange Place em uma música: Cellophane)

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BOM PARA QUEM OUVE: Shellac, Ty Segall, Pixies
ARTISTA: METZ

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.