Resenhas

Benjamin Clementine – I Tell A Fly

Músico encarna o Grand Guignol em seu novo trabalho

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Ano: 2017
Selo: Behind / Virgin EMI
# Faixas: 11
Estilos: Pop Experimental, Baroque Pop, Art Pop
Duração: 45
Nota: 4.0
Produção: Benjamin Clementine

At Least For Now, trabalho de estreia do músico inglês Benjamin Clementine, foi lançado há dois anos e catapultou o artista das ruas diretamente para o púlpito do Mercury Prize. Relendo minha resenha sobre o álbum, vi que teci sem meias palavras ternos elogios ao músico. Embora o grande triunfo de Clementine fosse sua capacidade de evocar artistas de alto quilate como Nina Simone ou ANOHNI, eu destaquei no texto uma faixa em especial do artista, por conta de sua esquisitice. Era St.-Clementine-On-Tea-And-Croissants, que soava como uma ciranda infantil interpretada com exagero cênico.

Parece ser justamente essa a via escolhida por Clementine em seu segundo álbum, I Tell a Fly. É claro, permanece o piano e permanece a potência vocal do artista, mas agora tudo parece fazer parte de opereta do Grand Guignol, uma peça de teatro de terror Rococó. Benjamin Clementine partiu para uma interpretação farsesca de suas letras, exagerando no sotaque, num misto de Screamin’ Jay Hawkins com Jacques Brel. No arranjo, cravos rodopiam e dividem espaço com interferências de sintetizadores. Não é difícil sentir a influência que Hallellujah Money teve por aqui.

Em suas letras, cheias de jogos de palavra e associações surrealistas, o álbum olha para a crise de refugiados na Europa. Phantom of Aleppoville evoca o conflito na Síria, mas evoca também algo mais essencial, como a falta de amor e a dificuldade humana de conviver em sociedade. Decerto o tema ajuda no clima confuso do trabalho. O artista declarou que este álbum conta a história de duas moscas – daí o título – que sobrevoam os países em crise: passaportes, fronteiras e demais massas migratórias refletem o desconforto do artista diante dos desacordos sociais.

A impressão inicial que se tem ao experimentar I Tell A Fly é a de que este é um álbum confuso e difícil de se ouvir. Uma audição atenta, no entanto, vai notar as melodias cativantes que se escondem no vai e vem dos arranjos. Permanece uma vontade de que Clementine, antes focado obsessivamente em Nina Simone, e agora nos trejeitos, ainda encontre sua própria voz sem a necessidade desses artifícios. Fora isso, sobressai a manifestação de uma mente maluca e hiperativa que tem muito o que dizer.

(I Tell A Fly em uma música: God Save The Jungle)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte