Resenhas

Hurts – Desire

Novo álbum de duo inglês repete erros anteriores

Loading

Ano: 2017
Selo: Sony
# Faixas: 13
Estilos: Synthpop, Eletrônico
Duração: 44:09
Nota: 2.0
Produção: Hurts

Este Desire é o quarto disco da dupla inglesa Hurts. Lembro de quando fiz a resenha do trabalho anterior dos caras, Surrender, há exatos dois anos. Vejam o que este inocente jornalista escreveu no último parágrafo: “Se Hurts sacar que é preciso criatividade e maturidade num caminho como o Synthpop, podemos esperar por boas criações no futuro. Se continuar decalcando totalmente o que já foi feito antes e melhor, só terá ressonância por pouco tempo, servindo de trampolim para novas e mais relevantes descobertas sonoras dos ouvintes. Pena, os caras podem mais”. Se há um mérito ao qual Theo Hutchcraft e Adam Anderson fazem jus é o de não terem evoluído um único centímetro neste dois anos. Este “novo” disco mantém os problemas do anterior, repete erros e os poucos acertos.

Desire investe nesta pegada Synthpop – com ênfase no Pop – que se tornou característica da dupla e de um monte de gente por aí afora. Espera-se um mínimo de criatividade, mudança, desejo de reinvenção por parte do artista num tempo como o de hoje. Não dá pra já comprar pronto todo um pacote estilístico – no caso, o Pop Eletrônico oitentista – e pouco mexer nisso, não se importando em soar como bandas de segunda divisão, caso comparadas ao que se fazia então. Certo? Isso deveria motivar os caras a querer mais, porém, isso não acontece em nenhum momento ao longo das treze faixas de Desire. E Hurts ainda sai por aí dando entrevista dizendo que fez um álbum arriscado, com discurso político e cheio de novidade. Não, Hurts, não.

A mesmíssima sonoridade polida e acrílica é reeditada com meticulosidade. Tem ecos de bandas como A-Ha, Erasure e Depeche Mode nos melhores momentos. Também há uns ecos de bases com Reggae estilizado, bem como Ace Of Base costuimava fazer no início dos anos 1990. O single Beautiful Ones, por exemplo, soa como um cruzamento descuidado dessa sonoridade com algo que N’Sync poderia fazer em, sei lá, 1999. Seria mais fácil se a dupla de assumisse como deslavadamente Pop, mas os sujeitos insistem em soar dramáticos, relevantes, instigantes e misteriosos, algo que os fãs compram sem nem olhar a data de validade.

Todas as faixas têm potencial para ir bem num estádio. As mais balançadas têm certa simpatia dançante para contagiar o público, enquanto que as baladinhas canastronas com refrãos explosivos e climáticos, pedem as luzes dos IPhones na escuridão do parque temático. Neste universo, destacam-se a lentinha Something I Need To Know e a simpática Thinking Of You, que traz algum DNA popão oitentista mas diluído na mesma proporção de um envelope de Tang numa piscina olímpica. No fim das contas, é bem pouco – mas pouquíssimo, sabe? – em termos de música minimamente dotada de algum valor artístico.

Hurts, segura este novo último parágrafo: Hurts é mais aparência que conteúdo. Dão a pinta de que podem mais, que têm conteúdo e potencial, mas são apenas dois sujeitos compondo e gravando mecanicamente em busca de algum lampejo de fama, talvez com receio de não se assumirem como compositores e cantores de Pop descartável e superficial. Não se engane, a menos que o seu desejo seja ouvir algo nesses termos.

(Desire em uma música: Something I Need To Know)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Editors, CHVRCHES, Ellie Goulding
ARTISTA: Hurts
MARCADORES: Eletrônico, Synthpop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.