Resenhas

Soft Glas – Orange Earth

Produtor revisita suas referências como músico e como pessoa em segundo álbum

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Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 13
Nota: 3.5
Produção: Joao Gonzalez

Prefiro avisar de antemão, em primeira pessoa mesmo, que este texto está mais baseado em pequenas hipóteses do que uma crítica de disco costuma estar, mas são pensamentos que ganharam força após ouvir Orange Earth por dez dias na missão de comunicá-lo ao leitor do Monkeybuzz.

Pois aí vai a ideia: Joao Gozalez, ou Soft Glas, quis que seu segundo álbum revisitasse suas referências pessoais e sua história em uma homenagem ao sul do estado norte-americano da Flórida, onde nasceu e cresceu antes de se mudar para Nova York, de onde lançou seu primeiro trabalho. Isso ele já declarou em entrevistas por aí. Daí, minha primeira suposição é que, esteticamente, isso gerou um som muitíssimo familiar aos ouvidos brasileiros.

Isso pode ter a ver tanto com o número de imigrantes que habitam o local que falam português, comem feijoada e jogam futebol (só para exercitar o esteriótipo), ou também com a influência que o Samba e principalmente a Bossa Nova tiveram na música Pop estadunidense lá atrás, na década de 1960, o que gerou o chamado Easy Listening – que, por sua vez, alimentou a produção musical nos anos 1980 com seus sintetizadores e guitarras (um som que, como sabemos, é bastante comum hoje em dia também).

É uma questão de ritmo e de harmonia que surge logo na primeira música, Coral Springs (Oceanic Dawn, a primeira faixa, é uma vinheta), e se espalha de maneira menos direta, porém bastante embrionária, por diversos momentos ao longo do álbum. Remeter-se a essa estética tem a ver com um aspecto geográfico para quem cresceu tão próximo a Miami, mas também com musicalidade familiar e nostálgica presente no disco.

A segunda hipótese – de cunho mais crítico, porém no mesmo nível interpretativo – diz respeito à escolha de faixas e até mesmo sua ordem. Tenho a impressão que Gonzalez conhecia a qualidade de sua Sky in the Lake, música lançada antes do álbum para promovê-lo, a ponto de construir o repertório a partir dela e, de certa forma, se contentar com seu potencial.

Sim, é uma faixa digna dos mais diversos elogios que salta aos ouvidos mesmo na sétima audição seguida do disco. Ela aproveita alguns acordes da anterior, Coral Springs (de forma com que ela pareça às vezes uma mera introdução a Sky in the Lake) e apresenta-se como o momento mais encorpado de todo Orange Earth. Passada ela, as músicas ficam tímidas, experimentando aqui e ali com boas influências do R&B e do Hip Hop de hoje, mas sem grande destaque.

A simpática Wilma, o quase-hit Perks of Being a Sunflower e a bela faixa-título ajudam o disco a ter mais fôlego, mas sua segunda metade, principalmente, traz aqueles exercícios de um produtor que comandou também a mixagem e masterização da obra (e conseguiu um som de altíssima qualidade), mas sem conquistar o ouvinte como as faixas citadas.

E é aí que nos pegamos pensando que Soft Glas lançou um bom álbum que poderia ter sido um excelente EP se tirado todos esses excessos (essa foi a terceira, última e mais simples hipótese). Seu mérito como um músico bastante completo foi reforçado mais uma vez, e com louvores, mas fica a sensação de que um formato menor já daria conta dessa missão, sendo ainda mais certeiro em dialogar com a sonoridade proposta e valorizando sua melhor música (ou, melhor ainda, sem prejudicar as demais).

(Orange Earth em uma faixa: Sky in the Lake)

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BOM PARA QUEM OUVE: MASM, Tycho, Mahmundi
ARTISTA: Soft Glas

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.