Resenhas

Cults – Offering

Duo traz tons mais fantasmagóricos às memórias afetivas em divertidas faixas

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Ano: 2017
Selo: Sinderlyn
# Faixas: 11
Estilos: Indie Pop, Pop Psicodélico, Synthpop
Duração: 41:36
Nota: 3.5
Produção: Shane Stoneback e Cults

Apesar de ter uma aparência e sonoridade jovem, o duo Cults tem muito a contar sobre sua trajetória e carreira. Dois discos podem parecer pouco, mas o compartilhamento de inúmeras histórias, episódios e até mesmo um romance entre a vocalista Madeline Follin e o guitarrista Brian Oblivion tornaram estes dois registros marcos extremamente pessoais e, por isso, de uma qualidade impressionante.

Com referências escuras, mas, ao mesmo tempo, apegadas à melodiosidade do Indie Pop, o duo parecia sair dos estereótipos impostos pelas tendências do início dos anos 2010, à medida que permitia que a narrativa dos acontecimentos pessoais temperasse esta sonoridade, tornando-a única dentre as demais. Agora, quatro anos após seu último disco, Static, o duo retorna com uma nova coleção de vivências para ser exploradas e expostas em divertidas canções, porém com uma diferença de tons marcante.

Como o próprio release de Offering sugere, a banda troca neste trabalho o preto e o branco do passado pela estética technicolor. Desta frase já conseguimos delimitar algumas mudanças bastante curiosas, já que estamos diante de composições bem mais alegres mas que, de certa forma, ainda reservam um tom meio macabro auxiliado pelos timbres de sintetizador dos anos 1980.

É como se estivéssemos presenciando os acontecimentos dos últimos quatro anos em uma fita VHS, na qual mesmo que as memórias impressas tenham um viés alegre, as distorções sonoras e modulações de frequência colocam uma capa fantasmagórica sobre elas. De certa maneira, é como se Cults estivesse revelando o fator etéreo da memória que, mesmo que esteja viva em nossa mente, sofre severas alterações por estar na presença de tantas outras lembranças. É interessante perceber como, para Cults, suas músicas vão além de uma simples nostalgia.

Logo de início, a faixa que dá nome ao disco nos faz perceber de cara que os sintetizadores tem um papel importantíssimo, servindo como base para que as melodias chiclete possam se manifestar. Dando espaço para algumas intervenções psicodélicas, With My Eyes Closed brinca com órgãos reverberados sutis que logo desembocam em um refrão firme e explosivo. Right Words deixa claro que, apesar das interferências da memória, Cults ainda é um duo pautado no Pop, mostrando bastante afinidade com arranjos desta ordem.

Good Religion, por sua vez, explora aquelas progressões de acordes simpáticas, marca registrada do duo desde seu primeiro e autointitulado trabalho. Talk In Circles é uma das músicas que mais revela a proximidade do grupo com a nova estética Hi-Fi de Tame Impala, além mostrar alguma similaridade com as melodias de Kevin Parker. Por fim, Gilded Lily reafirma as sonoridades fantasmagóricas na composição mais lenta do trabalho, uma espécie de balada das memórias passadas.

Offering é um trabalho que aponta direções novas para a banda, ao mesmo tempo que respeita sua tradição. Um disco bem dosado e que certamente cativará ouvintes novos e de velha data do duo. Um passeio pelos corredores obscuros de nossa memória.

(Offering em uma faixa: Good Religion)

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BOM PARA QUEM OUVE: CHVRCHES, Tame Impala, Best Coast
ARTISTA: Cults

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique