Resenhas

Deradoorian: Eternal Recurrence

“Mini álbum” explora sutileza dentro do Eletrônico

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Ano: 2017
Selo: Anticon
# Faixas: 6
Estilos: Eletrônica, Experimental
Duração: 29:22
Nota: 3.5
Produção: Angel Deradoorian e Ben Greenberg

Angel Deradoorian fez parte de Dirty Projectors até 2012. Antes e durante sua presença no grupo, participou como vocalista de apoio, com uma folha de serviços prestados a gente tão distinta como Brandon Flowers e The Roots. Deixou a banda pra ingressar numa carreira solo na qual o amor à Eletrônica é o norte criativo. Seria simples e reducionista, no entanto, dizer que a moça passou a fazer canções com sonoridades sintéticas, mecânicas ou no piloto automático. Nada seria mais impreciso, especialmente porque Deradoorian usa o maquinário para emular abordagens próximas da natureza, especialmente quando pensamos em algo que tenha a ver com sinestesia, estados da mente e outras instâncias em que não costumamos ver a presença de máquinas. Aqui, neste Eternal Recurrence, isto é possível. E bonito.

São seis faixas interligadas por uma sonoridade dos elementos, como se a gente, ao mesmo tempo em que está na segurança da cidade, saísse e adentrasse uma floresta mental ou, falando em termos caros aos psicólogos, como se projetássemos uma imagem bucólica e pacífica em forma de música. Em uma instância pessoal, o que temos aqui é uma floresta verdejante e convidativa, mas imagino que pradarias, mares, rios e outras paisagens igualmente reconfortantes possam surgir a partir da audição dessas canções.

O mistério e a perspectiva pessoal são dois elementos que se fazem necessários quando tentamos destrinchar as faixas do EP. Deradoorian tem o cuidado de não soar monótona ao longo das canções, dando ao ouvinte várias opções de imersão no clima plácido que vem vindo dos fones de ouvido. Dos vocais angelicais da abertura belíssima de Love Arise, passando pelo épico neo-progressivo, no sentido Renaissance do termo, de Return-Transcend, chegando aos sinos vulcanos de Ausar Temple, tudo é bonito. Em Nia In The Dark, tonalidades mais sombrias vêm se juntar ao espectro sonoro, enquanto a abertura de janelas de Mountainside descortina um verdejante painel, a última faixa, Mirrorman é um convite à introspecção.

Eternal Recurrence é um belo trabalho de uma artista que não tem receio de usar referências complicadas e/ou “antigas” para compor seu painel de influências. Tudo funciona por aqui, como funcionam os olhares para dentro e para o próximo, com carinho e boa vontade. Uma belezura inesperada.

(Eternal Recurrence em uma faixa: Ausar Temple)

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BOM PARA QUEM OUVE: Deerhoof, Panda Bear, Julia Holter
ARTISTA: Deradoorian

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.