Resenhas

William Patrick Corgan – Ogilala

Líder da banda Smashing Pumpkins retorna com álbum autoral e sóbrio

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Ano: 2017
Selo: BMG
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 38:28
Nota: 3.0
Produção: Rick Rubin

Antes de mais nada: William Patrick Corgan é ele mesmo: Billy Corgan, o cérebro pensante por trás de The Smashng Pumpkins desde sempre. Parece que a ideia que norteia Ogilala, seu primeiro álbum com o nome completo, mas o segundo solo, é seriedade. WP quer dizer que o jogo virou, a banda passou, que ele está falando verdades aqui. Para reforçar este movimento com nova música, ele decidiu que seria relevante gravar um álbum com canções cuja produção devesse enfatizar o que elas teriam de mais importante: melodia, estrutura, bons refrãos. Para corroborar esta visão estética, foi recrutado o produtor Rick Rubin, o cara que inventou essa ideia de que discos mais enxutos em termos de produção, com instrumental acústico, reduzido e austero significava sinônimo de álbum “sério”. Ele fez isso com ninguém menos que Johnny Cash lá nos anos 1990, nas famosas American Recordings, trabalhos que ressuscitaram Cash e o apresentaram para um público jovem e dedicado. Rubin fez o mesmo com Neil Diamond, outro cavalo de batalha da música americana, com resultados equivalentes.

Sendo assim, WP foi direto ao criador desta austeridade e volta agora com o resultado. Veja, nem sempre seriedade é algo que se força ou é o mais interessante a se fazer. Corgan sempre foi um artesão pop, um chapeleiro louco dos anos 1990, cuja megalomania gerou momentos fora da curva que o Rock Alternativo americano contemplava, mas também gerou monstros de estúdio. Ainda assim, no saldo final, Corgan é muito mais mocinho que vilão. Discos como Gish (1991), Siamese Dream (1993) e Mellon Collie And Infinite Sadness (1996), estão entre os grandes momentos daquela década mas a capacidade de Corgan em compor além do seu estilo característico mostrou-se insuficiente. Sendo assim, ele se conformou com um tipo progressivoide de Rock Alternativo, com teclados, sintetizadores oitentistas fazendo número entre as guitarras e seus vocais de gás hélio. Esta é sua expressão musical, que acompanha seu inegável talento como compositor. Ogilala é a exaltação desse formato de Pop, com arranjos que privilegiam pianos, cordas e violões, com um pouco-pouquíssimo de teclados. E, claro, a voz de WP.

Mais que um disco “sério”, Ogilala é um álbum de autor. As canções de Corgan continuam eficazes, enquanto a produção de Rubin fornece o tom desejado, de certa solenidade, de maturidade finalmente atingida, afinal de contas, WP está nos seus cinquenta e tantos anos. A ideia de minimizar as possibilidades dos arranjos acaba por comprometer as canções. Todas soam muito iguais, com duas exceções impressionantes: The Spaniards, um épico de bolso, muito a feitio do que era Smashing Pumpkins em 1996, ela vai agradar em cheio aos órfãos de Mellon Collie, uma vez que soa como um dos lados-B acústicos contigos nos singles do álbum. Há drama no refrão, há epopeia sinfônica de sintetizadores, há o típico Billy Corgan que parece ser uma espécie de persona non grata por aqui.

O outro grande momento do álbum é Aeronaut, com pianos grandiloquentes, cordas rodopiantes, estrutura tristonha, título esquisito, melodia que faz menção ao talhe clássico de Elton John e uma admiração estanha e perene pela tristeza e suas possibilidades criativas, ou seja, mais um aceno ao “moleque” Corgan que habita as rugas do sisudo WP. Talvez a única unanimidade que Ogilala traz ao mundo é a inegável melhora no Corgan cantor. Seus vocais de gás hélio parecem coisa do passado, o registro tornou-se mais grave e solene, como se ele tivesse frequentado algum curso de aperfeiçoamento, vá saber.

A verdade é que Ogilala só é realmente legal quando Billy e WP conseguem dialogar, com a criatividade ainda exuberante do primeiro servindo de alimento e inspiração para o segundo. Uma pena, esses dois precisam se entender melhor e as duas canções em que ambos comparecem, estão entre as melhores coisas que ele(s) já fizeram.

(Ogilala em uma música: The Spaniards)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.