Resenhas

St. Vincent – MASSEDUCTION

Artista joga com o Pop sem abrir mão de sua assinatura musical

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Ano: 2017
Selo: Loma Vista
# Faixas: 13
Estilos: Pop Alternativo
Duração: 41:36
Nota: 4.0
Produção: Jack Antonoff, St. Vincent, Lars Stalfors, John Congleton

Annie Clark é St. Vincent, mas, a esta altura do campeonato, poderia muito bem ser o contrário. São dez anos de jornada e cinco álbuns no currículo, responsáveis por estabelecer, em ritmo lento e constante, a figura da artista no imaginário da música Pop alternativa dos anos 2010.

MASSEDUCTION, o sexto da discografia, existe no legado que seu antecessor deixou, ou seja, é assumidamente Pop, evoca tons coloridos, plastificados, coberto com uma camada de glacê. Tudo amigável, e até seria um pouco esterilizado, não fosse o pé na esquisitice que Clark faz questão de manter.

Existe, no entanto, uma diferença essencial, que faz com que este trabalho se expanda para os ouvidos de um público mais alargado, se comparado a seus antecessor. A abrasividade de antes, percebida nos timbres azedos ou nas melodias ardidas da guitarra, amaciou o tom. Ouvir St. Vincent era – para ficar no campo da sinestesia – como encarar de frente uma luz neon. MASSEDUCTION, em comparação, aposta em timbres mais macios, baladas românticas e um approach mais, digamos assim, digerível.

Essa culpa é, provavelmente, de Jack Antonoff (Bleachers, Fun.), produtor convidado para o trabalho e acostumado a lidar com as grandes estrelas da indústria, como Lorde, Taylor Swift e Pink. Sua parceria com uma artista como St. Vincent que, como dissemos, não arreda o pé de sua marca registrada, se provou frutífera para ambos. É por isso, provavelmente, que canções reduzidas ao essencial como Happy Birthday, Johnny, New York ou Slow Disco, mesmo se destacando da fórmula usual de Clark, podem existir, e fazer muito sentido dentro deste contexto.

Permanecem os riffs de guitarra que grudam no ouvido e permanece a postura sarcástica da artista que fala agora fala de sexo, sedução e, enfim, dos jogos de poder dentro das relações humanas. Confesso que fiquei desconfiado de antemão deste trabalho, diante da possibilidade de encontrar uma crítica da “indústria da fama” vinda de uma artista extremamente bem sucedida. No entanto, MASSEDUCTION acerta no tom: existe bom humor, e existem referências que expandem o universo deste álbum tanto para a crítica social, quanto para as confissões pessoais, quanto para a mera fruição de uma boa música Pop.

É o caso das citações do filme Brazil no clipe de Los Ageless, de Donna Summer em Sugarboy, ou até mesmo de Queen na segunda metade da faixa Pills, sublinhando que este álbum serve mais a uma perspectiva clássica do que algo que se propõe a experimentar novas abordagens. Afinal, já se vão dez anos de carreira para St. Vincent: se seu álbum homônimo consagrou sua persona, agora a artista parece jogar livremente no território construído por si mesma.

(MASSEDUCTION em uma música: Pills)

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BOM PARA QUEM OUVE: Bleachers, David Byrne, Chairlift
ARTISTA: St. Vincent
MARCADORES: Ouça, Pop Alternativo

Autor:

é músico e escreve sobre arte