Resenhas

Amandinho – Ocultismo Oldschool

Segundo disco da banda é um exercício profundo e envolvente sobre a juventude nostálgica

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Ano: 2017
Selo: Transtorninho Records/La Flor Records
# Faixas: 9
Estilos: Emo, Shoegaze, Noise
Duração: 51:29
Nota: 3.5
Produção: Amandinho e Renato Cunha

O recente boom do dito Rock Triste fez as pessoas tornarem os olhos para cenas independentes bastante prolíficas, saindo um pouco do eixo Rio-São Paulo da música e tendo a chance de experimentar bandas de sonoridades inusitadas. Junto a essa popularidade, é curioso que houve uma equivocada tendência de enquadrar o som dessas bandas como Emo, praticamente ignorando que, na verdade, se tratava de uma mistura bem mais complexa. Amandinho é um desses nomes injustiçados. Uma banda que há dois anos nos apresentava Rugby Japonês, uma ode Lo-fi à juventude tenra e desenfreada que chamava atenção pela sinceridade das letras. Agora, o grupo resolve recorrer deste errôneo julgamento, deixando claro que o Emo é apenas uma das faces que os meninos se usaram para expressar suas aflições e emoções.

Ocultismo Oldschool é um nome que faz jus ao novo universo explorado pela banda. Neste disco, os meninos juntam elementos de sonoridades tão diversas que é quase como se estivéssemos tentando descobrir a natureza dessas forças misteriosas que orientam os seus respectivos pensamentos. Ouvimos indícios de Shoegaze, Punk, Noise, Heavy Metal, mas parece que por trás desses arranjos e timbres estridentes há uma espécie de espírito da juventude nostálgica que permeia as músicas; algo que faz com que possamos entender plenamente o valor do disco. Mas seria uma grande subestimação se atribuíssemos esta interessante aura ao acaso. O grande barato do disco é que, por meio de suas escolhas conscientes das estéticas, letras e sonoridades o grupo consegue evocar este espírito (ou zeitgeist), nos deixando hipnotizados e seduzidos esta sensação de jovialidade nostálgica.

O ritual de Amandinho começa com Bruxismo, uma faixa que traduz tanto a sensação macabra deste novo campo explorado, como a tensão de nossos dentes rangendo. Já Academia Brasileira de Vandalismo Comparado começa a mostrar esboços de uma nostalgia Pop Punk de forma mais explícita, com acordes abertos, gritos em coro e um agradecimento falado no meio das músicas. Feitiço Do Tempo nos introduz a elementos mais formais do Emo, mas sem abrir mão de fundir de acordes desleixados de Shoegaze e a despretensão em trazer vocais extremamente afinados em prol de uma honestidade mais convicta. Broder e seu apelo aos estereótipos Punk dos anos 1990 é uma canção sobre amizades e vacilos cuja simplicidade proposital nos aproxima de quando aprendemos a tocar guitarra uma guitarra pela primeira vez. Por fim, a melancólica Raiva Do Mundo completa esse zeitgeist jovial com uma rebeldia inquestionável e um cover de Carry On, da banda de Metal Melódico nacional Angra.

Ocultismo Oldschool pode parecer um trabalho amador, mas ele traz um surpreendente e aguçado olhar em relação ao passado e nos apresenta como se nada tivesse mudado nos últimos anos. A infância e adolescência são reapresentadas com força e assim, parece cada vez mais idiota caracterizar o som da banda como apenas um “Rock Triste” ou Emo. Um disco sobre efêmera sensação da juventude eterna.

(Ocultismo Oldschool em uma faixa: Academia Brasileira de Vandalismo Comparado)

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ARTISTA: Amandinho
MARCADORES: Emo, Noise, Ouça, Shoegaze

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique