Resenhas

Alex Lahey – I Love You Like a Brother

Cantora australiana estreia com disco apaixonante

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Ano: 2017
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Pop Punk
Duração: 35:10
Nota: 4.5
Produção: Oscar Dawson

Ao longo da audição deste ótimo I Love You Like A Brother, estreia da cantora australiana Alex Lahey, o meu “Alerta de Artista Apaixonante” disparou várias vezes. É bem simples de entender, além da evidente empatia que a artista de 25 anos suscita, seja por sua autenticidade, pela sua belezura ou pelo seu humor muito sábio. Aqui estão dez canções que parecem bolotas coloridas de Rock’n’Roll chicletudo atemporal, entregues para o ouvinte numa cestinha cuidadosamente feita, com carinho evidente, com consideração e desejo de que as faixas digam coisas sérias no proverbial pé de ouvido. Dependendo da idade e da circunstância, esta região emocional se desloca, passando do lado esquerdo do peito para o lado direito do cérebro. Independente de onde ela estiver em você, a chance de apaixonar-se por Lahey e seu milkshake crocante em forma de música é enorme. E isso é o melhor que pode te acontecer, creia.

Alex é de Melbourne e segue uma tradição Punk da ilha-continente. Suas melodias são doçuras de três acordes para baixo, bateria e guitarra, essa santa trindade roqueira, devidamente atualizada por tiques e taques de produção e espírito contagiante na gravação. De fato, parece que ela e sua galera estão no quarto ao lado, acertando instrumentos e timbres. Tudo é espontâneo e legal. A temática é o amor, em sua variante latu sensu, ou seja, o amor amplo, maior e essencial. Aos poucos a gente descobre que um amor de irmão/irmã pode ser mais valioso que o amor em sua forma sexual etc. Lahey fala disso como se estivesse fazendo um teste para tocar com Ramones ou Breeders, barulhenta, inteligente, fofa ao extremo. No meio desse festival de espontaneidade millenial, surgem pérolas brutas.

A faixa-título, que dura menos que três minutos, tem um verso que diz tudo sobre essa magia: You know me better than I give you credit, a síntese perfeita do amor que permeia esse tipo de relação. Na verdade, praticamente todas as canções presentes aqui têm versos inteligentes, levadas turbinadas de guitarra e uma eficiência total. É como se o Rock entendesse que valorizar pequenos detalhes fosse sua maior contribuição a uma revolução nestes nossos dias. Tão pequenas que vão se espalhar por aí, em vez de surgir como grandes causas em campanhas de doação pela Internet em megashows televisionados. Alex não pensou em nada disso, apenas falou de seu cotidiano afetuoso de menina em seus 20 e poucos anos, aprendendo a lidar com o peso que vai sendo depositado nos ombros.

O desejo de não fazer nada – o tal ócio criativo de Marx? – está presente em Every Day’s The Weekend, enquanto a percepção de que o ritmo de vida acelerado começa a pegar no pé (I Haven’t Been Taking Care Of Myself e os medos da vida adulta em Backpack, com o versinho “I think I’m gonna die at age of 33”, e também na sintomática Perth Traumatic Stress Disorder, que surge com o botão do turbo apertado. Lá para o fim do percurso sonoro, surge uma canção de amor maior de menina para o mundo, materializada em I Want U, que tem acordes de guitarra de diferentes épocas em perfeito convívio e uma melodia dourada, suspensa no ar da primavera. Uma certa herança alternativo-grunge aparece em Lotto In Reverse, enquanto a dobradinha de canções de encerramento dizem “olá” com a fofa Let’s Call It A Day e a verdadeira There’s No Money envolva em batidas eletrônicas que se moldam às guitarras com perfeição.

Alex Lahey pode ser aquela menina que cruza com seus passos na faculdade ou no colégio. É de verdade, tem cara de gente e um baita talento. Venha conhecê-la e se apaixonar. (I Love You Like a Brother em uma música: I Love You Like a Brother)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.