O período atual dos Estados Unidos há de ficar marcado na história pela quantidade de “Trump art” produzida. Seja na música ou em outras linguagens artísticas, a fala política de protesto tem sido uma constante nos lançamentos norte-americanos.
Snoop Dogg serve bem ao cargo de antagonista de Donald Trump, na medida em que também marca presença como uma celebridade da mídia. Seu último EP, Make America Crip Again, lançado pouco tempo depois de Neva Left, nasce da necessidade urgente de resistir politicamente. É, pelo menos, o que o título e a capa do trabalho nos fazem acreditar de antemão.
No entanto, um olhar atento vai notar que Make America Crip Again não é um álbum necessariamente político, não ao menos no sentido estrito do termo, que milita pelos seus ideais de estado de direito. Mas é político, sim, na medida em que exalta o clima de celebração e de liberdade.
M.A.C.A., a faixa de abertura, é a única que faz referência ao presidente, mas é direcionado à juventude negra, com o artista assumindo um papel de mentor para as novas gerações. Não é um trabalho isento de controvérsias, na medida em que faz referência aos Crips, uma das maiores gangues de Los Angeles, que nasceu para cuidar da comunidade mas que acabou se tornando uma das mais violentas do país. Seja como for, há um clima de esperança na faixa, com uma produção grandiosa que nos faz acreditar em tempos melhores. Já o restante das músicas fazem parte do universo festivo do artista, com instrumentais relaxados e vocais fluídos e esfumaçados.
“I’m back to the basics” diz o artista em Diz Finna Be a Breeze. Em tempos controversos, voltar ao básico é uma necessidade política. Make America Crip Again é como um resumo do que Snoop Dogg sabe fazer bem, sem inovar, mas atento aos detalhes: fala de política e fala de festa como quem não vê tanta distinção assim entre as duas coisas.
( Make America Crip Again em uma música: M.A.C.A.)
