Será interessante acompanhar o movimento da música Pop neste início de século agora que esta começa a incorporar elementos crítico no seu modo de pensar. Se a maior ressalva a ser feita em relação às celebridades do mainstream das últimas décadas era a futilidade de sua mensagem, agora resta ver como uma postura muito menos passiva dos artistas da indústria será recebida pelo grande público.
Ouvir a artista nipo-inglesa Rina Sawayama é como contemplar o estágio final de uma transformação do Pop Alternativo iniciada por gente como Frank Ocean, Grimes e FKA Twigs, na qual elementos “tortos” posicionam esses artistas um pouco à margem do que é vendável, digerível, etc. Ou posicionavam, pois RINA, o EP de estreia da cantora, é uma homenagem aos astros dos anos 90 feita a partir dessa perspectiva contemporânea, e parece unir com sucesso ambos os universos.
Existem diversas referências – algumas mais evidentes, outras mais discretas – às músicas de Britney Spears, Christina Aguilera, Backstreet Boys e N’Sync em RINA, sua identidade visual é tão colorida quanto um fliperama japonês, e os clipes não abdicam das coreografias de grupo. No entanto, Sawayama dilui aqui e ali críticas sociais aos relacionamentos contemporâneos, ao uso abusivo das redes sociais e falas de empoderamento.
A produção, a cargo de Clarence Clarity é frenética, sobrecarregada de timbres malucos – a faixa Cyber Stockholm Syndrome é um excelente exemplo -, viradas de bateria sintetizada, bolas coloridas, luzes neon, texturas grudentas. RINA é uma aposta certeira feita para brilhar, exibindo um Pop que não vem necessariamente para subverter a indústria, mas para enriquecer as possibilidades do estilo.
(RINA em uma música: Cyber Stockholm Syndrome)