Resenhas

Tennis – We Can Die Happy

Dupla segue reinventando o passado em sua música

Loading

Ano: 2017
Selo: Mutually Detrimental
# Faixas: 5
Estilos: Pop Alternativo, Lo-Fi Pop
Duração: 16:10
Nota: 3.5
Produção: Patrick Riley

Tennis é um casal, no caso, Patrick Riley (multiinstrumentista, produtor) e Alana Moore (vocais), dois sujeitos com um objetivo musical em suas vidas: fornecer uma visão peculiar e afetuosa do Pop radiofônico dos anos 1970/80. As pessoas costumam torcer o nariz para essas bandas e artistas que insistem em olhar para o passado como inspiração, né? Eu vos digo: essa armadilha não pega quem é talentoso, uma vez que essas pessoas lançarão sempre um olhar do presente para o passado, recriando-o, no máximo, emulando-o. Os que não têm recursos artísticos apenas o reproduzirão sem criatividade qualquer. Tennis tem de sobra todos os requisitos para fornecer um olhar afetuoso de uma época recente, mas que parece ter acontecido há muito mais tempo do que 30, 40 anos. We Can Die Happy é mais um movimento nesta direção. Uma boa referência cinematográfica para este som é As Virgens Suicidas, primeiro filme de Sofia Coppola.

É bom o ouvinte ser alertado que há pelo menos duas canções inestimáveis por aqui, sempre na órbita da conexão Pop urdida por Fleetwood Mac, quando este, originalmente inglês, mudou-se para os Estados Unidos, mais precisamente para a Califórnia, incorporando em suas fileiras o casal Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, ambos extremamente hábeis nas artes do canto e da composição ensolarada. Tennis procura um ponto no tempo para pousar e encontra este meio da década de 1970, em que havia o Pop radiofônico, o Hard Rock, o Progressivo, o Funk, da Disco Music, todos disputando espaço no rádio e no coração dos jovens. Alana e Patrick vão fundo nos elementos mais solares com muita propriedade. Sobre as canções, a faixa de abertura, No Exit, passaria facilmente por um lado B do Big Mac, com sua atmosfera fluida, seus ritmos bem posicionados e dinâmica perfeita. Já I Miss That Feeling parece uma balada que teria entrado na trilha sonora de uma novela global da época. Tem melodia linda, vocais atmosféricos e um arranjo que deixa a canção com uma pinta de fita demo, uma lindeza só.

As outras três canções do EP mantém o nível. Born To Be Needed tem cara de gravação de The Cardigans nos anos 1990, quando o principal objetivo do grupo sueco era, bingo, recuperar o popismo dourado anglo-americano setentista. Diamond Rings tem ainda mais acentuado o clima de improviso/ensaio, o que suscita essa aparência de take inacabado no estúdio. Isso só torna mais atraente o contraste entre o que a crítica tem chamado de mid-fi – para caracterizar o som da dupla – e a melodia perfeita. No fim do percurso, uma balada derramada e conduzida por teclados e guitarras, chamada Building God, falando sobre decepções e agruras sentimentais mil em clima de bailinho de formatura.

Tennis é uma dupla muito consciente da revisita ao passado como um meio de recriação artística, propondo pequenos túneis do tempo estilístico para sua crescente base de fãs. Este EP é uma pequena belezura sonora, doce, afetuosa e sincera. Ouçam.

(We Die Happy em uma música: No Exit)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Fleetwood Mac, Haim, She & Him
ARTISTA: Tennis

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.