Resenhas

Jaden Smith – Syre

Megalomania prejudica a estreia do artista no mundo do Hip Hop

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Ano: 2017
Selo: MSFTSMusic, Roc Nation
# Faixas: 17
Estilos: Hip Hop
Duração: 70:29
Nota: 2.0
Produção: Lido, Melvin Lewis, OmArr, Tim Suby, Young Fyre, Josiah Bell, Teo, IQ, Christian Rich, Wanderlust

O jovem Jaden Smith, de apenas 19 anos, que é ator, empresário empreendedor, fashionista e assim por diante, já vinha preparando o terreno para sua estreia no campo da música há algum tempo. Finalmente, seguindo os passos dos outros membros da família, o artista lança ao mundo Syre, seu debute oficial no universo do Hip Hop.

Jaden Smith se aproveita do lugar extremamente privilegiado que ocupa no meio do entretenimento para construir sua imagem. O artista usufrui de sua fama – que já carrega consigo desde o nascimento -, de seu dinheiro e de seus contatos para elaborar um mito em torno de si mesmo. É a ostentosa figura do Rap God, que ocupou o lugar do Rock Star no imaginário do entretenimento musical deste novo século.

Syre é o nome do meio do artista, pouco conhecido pelo público em geral. Ou seja, é possível interpretar o título do trabalho como uma tentativa de oferecer um olhar diferente sobre a persona de Jaden Smith, um ângulo distinto do que se conhecia até então. No entanto, a audição do trabalho mostra que o artista pouco faz além de reafirmar suas certezas a respeito de si mesmo.

É possível dizer que este é o principal tema do álbum: o constante sublinhar da figura de poder do artista. Há vários momentos sintomáticos desta postura ao longo do trabalho. A faixa Icon é a mais emblemática, mas Batman é outro bom exemplo, simbolizando o herói cujo poder confunde-se com o status financeiro.

Este tema principal entra em ressonância com outros derivados, sempre a favor do mesmo fim, ou seja, edificar a ideia de o artista é uma espécie de gênio privilegiado: as faixas românticas, por exemplo, elaboram a ideia de que Jaden Smith é alguém sensível, e que se preocupa com verdades mais fundamentais dos relacionamentos humanos. Em outros momentos aparece a noção de que o artista é uma espécie de profeta, que vê o futuro e que diz coisas que a humanidade ainda não está pronta para entender. Tudo isso faz parte de uma romantização que faz sentido dentro da lógica que o estilo musical pede, mas Syre escorrega no momento em que o ego inflado do artista começa a esbarrar na falta de respeito à figuras históricas e consagradas pelo tempo (como, por exemplo, comparar-se à Martin Luther King na segunda faixa do álbum).

São tentativas poéticas, com elaborações vagas, exageros retóricos, misturados com filosofias absurdas de Twitter pelas quais o jovem se tornou conhecido na internet. É uma abordagem ingênua, que aflora de maneira natural, no entanto, a falta de um sentido para faixas que ultrapasse o mero marketing de si mesmo torna a audição de faixas com seis, sete, nove minutos de duração uma tarefa cansativa.

O trabalho é marcado por uma miscelânea de referências contemporâneas do mainstream, abrangendo uma gama que vai do Rap Rock ao Post-Dubstep. Syre mira alto (mas não muito longe) nas suas influências, das quais Kanye West e Frank Ocean talvez sejam as mais óbvias, embora estejam presentes de maneira refratada. Do primeiro Smith herda a agressividade e a megalomania (Watch Me, por exemplo, faz uma clara referência a Black Skinhead). Do segundo, resta a melancolia, os timbres metálicos e as tonalidades millennial. Para além destes, A$AP Rocky e Raury, que são amigos próximos do artista, fazem participações especiais, e influenciam, cada um com sua própria característica, o modo como cada faixa chega no seu produto final.

Syre está antenado na produção de Hip-Hop contemporânea e carrega consigo uma energia que tem a ver com o sangue nos olhos da vontade de produzir, de revolucionar, de causar um impacto positivo nos ouvintes. Mas a intenção de, já de partida, estabelecer-se como profeta da nova geração está em descompasso com o poder de alcance da obra.

(Syre em uma música: Icon)

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BOM PARA QUEM OUVE: Vic Mensa, Raury, Kanye West
ARTISTA: Jaden Smith
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

é músico e escreve sobre arte