Resenhas

Daniele Luppi – MILANO

Compositor disseca a realidade de Milão durante sua adolescência ao lado da banda Parquet Courts

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Ano: 2017
Selo: Monitor Pop
# Faixas: 9
Estilos: Indie Rock, Garage Punk, Folk Rock
Duração: 30:00
Nota: 3.5
Produção: Daniele Luppi

Usar uma cidade como objeto de inspiração para uma obra é uma tarefa bastante complexa. De LCD Soundsystem até o mineiro Nobat, percebemos que a riqueza urbana pode trazer diversas perspectivas, indo muito além de falar da Estátua da Liberdade, em Nova York, ou das cidades históricas de Minas Gerais. Muitas vezes, o fato destes compositores viverem nestas cidades, promovem uma perspectiva única, investigando as relações e as minúcias de cada um destes cenários. E foi exatamente isso que o compositor italiano Daniele Luppi se propôs a fazer em alguns de seus discos, com destaque especial para Rome, uma espécie de célebre homenagem à trilha sonora de filmes italianos em parceria com a banda Danger Mouse. Agora, cinco anos depois deste trabalho, o compositor nos entrega uma outra ode urbana, mas de uma musa diferente e tão complexa quanto a capital italiana.

MILANO é uma obra de desconstrução e investigação. Comumente associada à moda, alta elite e o glamour, Daniele Luppi busca por meio destas nove canções convidar o ouvintes a conhecer a Milão de sua adolescência. Regado de Garage Punk, Folk e os começos do Indie Rock nos anos 1980, o compositor se juntou à banda americana Parquet Courts para explorar as ruas da cidade e nos transmitir de forma fidedigna tudo aquilo que construiu esta percepção. A Milão de Daniele Luppi é oposta aos estereótipos: suja, irônica, drogada, caótica e repleta de desconforto. Porém, sua intenção não é que este disco seja um aviso para não irmos para lá, mas sim, um relato mais fidedigno do que se passa e passou por lá, deixando o ar de capital da moda um pouco de lado e resgatando a noção de uma cidade complexa como qualquer outra.

O single Soul And Cigarette abre o disco de uma forma mais branda do que a descrição que fizemos acima, entoando um Folk cru e nostálgico. Logo em seguida, em parceria com Karen O, Talisa nos põe no ritmo frenético das grandes cidades, acelerando em uma velocidade Punk de nomes como The Kinks e The Clash. Flush pode ser um pouco mais lenta, porém a sobreposição de guitarras tensas e sonoplastias irritantes constrói um ambiente hostil, ao mesmo tempo que nos seduz para conhecer os elementos que o formam.

Memphis Blues Again mostra que, apesar da adolescência do compositor ter sido nos anos 80, há um resquício de sonoridades setentistas neste período, remetendo a nomes do pré-Punk como MC5 e Television. The Golden Ones, mais uma vez com a vocalista de Yeah Yeah Yeahs, disseca os becos milaneses em busca de expor as minúcias da realidade. Por fim, Café Flesh procura mostrar bem esta oposição do clássico com o grotesco, tanto em seu título quanto na mistura de elementos destas duas naturezas, como o solo avantgarde de Saxofone e a batida Punk que o acompnha.

Daniele Lupin mostra neste disco que tem, além de uma percepção bastante aguçada, um talento em nos repassar sensações e texturas de tempos específicos como se estivéssemos no lugar em questão. Este é mais um capítulo bem escrito em sua discografia e que certamente nos deixa curioso para quais serão seus próximos objetos de estudo tão bem analisados. Um disco cru sobre as complexidades urbanas.

(MILANO em uma faixa: Café Flesh)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique