Resenhas

The Staves & yMusic – The Way Is Read

Colaboração entre grupos rende disco impressionante

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Ano: 2017
Selo: Nonesuch
# Faixas: 12
Estilos: Folk Alternativo, Experimental
Duração: 38:01
Nota: 5.0
Produção: Rob Moose e Jessica Staveley-Taylor

Vamos por partes. Certo?

Primeira parte: Este disco é uma colaboração entre o trio de irmãs inglês The Staves e o sexteto novaiorquino yMusic. A ideia, partindo de uma parceria prévia entre os grupos, registrada há algum tempo, é mesclar o Folk intimista e alternativo das moças com a vanguarda instrumental de câmara do combo erudito, que tem sua marca musical na renovação da abordagem de canções populares por instrumentos como viola, violino, trombone e sopros. O resultado, The Way Is Read, é desses álbuns que faz com que o ouvinte seja blindado não só em relação ao ambiente em que está mas como, de alguma forma maluca, de todo o mal que perpassa pela mente alheia. De um minuto pro outro, você está, ahm, seguro, acalentado, protegido.

Segunda parte: O encontro entre os grupos tem a bênção musical de Justin Vernon (produtor do trabalho anterior do trio, o brilhante If I Was), que recebeu a ambos em sua cidade natal, Eau Claire, no estado americano de Wisconsin. As irmãs mudaram-se para os Estados Unidos, a fim de estarem próximas do local das gravações e composições. A meta era colaborar totalmente com yMusic e não submeter canções já existentes a um arranjo de câmara. Tal movimento faz toda a diferença, uma vez que a safra de composições que surgiu deste encontro parece ter sido pensada – e foi, claro – para somente existir do jeito como as canções foram gravadas, não restando ao ouvinte sequer a opção de imaginá-las em outro formato.

Terceira parte: O resultado não se parece com nada que tenhamos ouvido nesses tempos e isso é o grande diferencial, que deve ser ressaltado. Os arranjos são deslumbrantes, como se fossem forças da natureza, oferecendo espaço para as vozes das meninas brilharem em meio a um panorama musical entre o plácido e o alienígena, permeado de tranquilidade mas nunca sendo banal ou frouxo. Todo mundo no estúdio sabia exatamente o que estava fazendo e o resultado confirma a majestade do projeto, da execução e do conceito que norteou tudo.

Epílogo: Não dá pra destacar uma ou outra das doze faixas. Ainda que tenham duração radiofônica, não indo além dos cinco minutos, todas são partes indissociáveis da audição. Ouvir uma ou outra em separado, tira totalmente a mágica do álbum, que serve como uma cápsula protetora ou algo assim. Fora desse contexto, as músicas serão “apenas” lindamente gravadas e compostas e isso, diante do resultado do álbum, chega a ser pouco. O uso dos instrumentos é revolucionário, mas o contraste com o canto agropastoril das meninas gera uma sensação de conforto e colo imemoriais, nos levando para uma dimensão acolhedora, da qual não dá nenhuma vontade de sair. É novo e muito familiar ao mesmo tempo. E é belíssimo.

Apenas ouça e se apaixone.

(The Way Is Read em uma música: não dá. Ouça o disco todo.)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.