Resenhas

Coruja BC1 – No Dia Dos Nossos

Disco de estreia do rapper bauruense traz um ataque direto em prol de uma crítica efetiva

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Ano: 2017
Selo: Laboratório Fantasma
# Faixas: 11
Estilos: Hip Hop, Sample Based, Trap
Duração: 36:17
Nota: 3.5

Do interior paulista para o Brasil, Coruja BC1escolheu mandar sua mensagem de uma forma que não pudesse ser esquecida facilmente. O rapper natural de Osasco, São Paulo, começou sua carreira com mixtapes lançadas há algum tempo, respectivamente Até Surdo Ouviu e A Voz Do Coração. Ambas carregavam uma rima potente e que não levava desaforo para casa, a qual alguns poderiam chamar de ácida, mas que parecia ter na verdade uma característica devastadora. Deste potencial indiscutível, Emicida o chamou para integrar o catálogo de seu selo Laboratório Fantasma, que conta com nomes pesados como Rael e Fióti. Apesar de certamente facilitar a carreira do rapper de Bauru (SP), essa inclusão foi apenas uma burocracia, pois temos a sensação de que a voz de Coruja seria escutada há quilômetros de distância independente do que você feito e seu novo disco é a prova definitiva disso.

No Dia Dos Nossos mostra que Coruja não faz rimas, ele digladia, o que fica claro não apenas em seu flow, mas na natureza de suas letras. A crítica social que o rapper propõe não é por meio de metáforas, mas de um ataque frontal direto que chama seu adversário pelo primeiro nome, sem medo do contra-ataque. Por isso, seus produtores procuram trazer esta força também para as batidas, abusando do Trap e de baixos pesados, ao mesmo tempo que trazem a suavidade do Jazz e R&B. Isso nos mostra que, apesar dessa força, Coruja também quer nos mostrar de onde veio e como suas referências o projetaram para correr atrás do que acreditava. Com onze faixas e diversas parcerias, seu primeiro disco de estúdio reúne suas melhores qualidades enquanto MC e defensor de seus ideais – este último inclusive, talvez seja o grande diferencial ao escutarmos suas rimas: enquanto ele fala, nós nem ousamos cantar junto, apenas queremos ouvir seu discurso.

O single NDDN já impõe o respeito devido, trazendo uma batida intensa que não mostra piedade para quem ousar transpor seu caminho. Com referências de Jazz, Django se junta a Emicida para criticar a hipocrisia das lamentações e a corrupção intrínseca do sistema de justiça brasileiro. Outra Frase traz um pouco das batidas do R&B do começos dos anos 2000, afrontando seus inimigos e compartilhando seus planos. Granada, por sua vez, complementa a construção da faceta crítica do rapper entoando um confronto direto a outros nomes do Rap que não tem esta mesma consciência, “indo para a guerra de canivete”. Eclesiastes sussurra a ambição firme de Coruja ao mesmo tempo que a mistura com a suavidade dos vocais de Godô. Em meio a combates, o artista traz uma face mais humilde em De Fã Pra Fã e que mostra que embora convicto, ele jamais ignoraria alguém que busca o mesmo que ele – tratando seu fã de igual para igual.

O disco de estreia de Coruja BC1 é arrebatador, impiedoso e direto ao ponto. A sua agressividade não é em prol da violência gratuita, mas em busca de uma conscientização maior, colocando as críticas de forma explícita na cara de quem também não quer ouvir. Com uma mistura interessante de referências, temos a certeza de que podemos esperar boas coisas para seu futuro. Por ora, ficamos com um gancho de direita bem executado e preciso da cara do Brasil.

(No Dia Dos Nossos em uma faixa: Granada)

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BOM PARA QUEM OUVE: Wu Tang Clan, niLL, Síntese
ARTISTA: Coruja BC1
MARCADORES: Hip Hop, Sample Based, Trap

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique