Resenhas

OCS – Memory Of A Cut Off Head

Novo projeto de John Dwyer oferece mergulho no Folk Psicodélico

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Ano: 2017
Selo: Castle Face
# Faixas: 10
Estilos: Folk Alternativo, Rock Alternativo, Folk Psicodélico
Duração: 45:01
Nota: 4.0
Produção: John Dwyer

Cá estamos nós diante de mais uma criação do incansável John Dwyer. À frente do prolífico Thee Oh Sees e de outros vários projetos paralelos, o homem não hesita em aproveitar seu selo castle Face para povoar o mundo alternativo com suas criações. Geralmente imerso no oceano do Punk Rock mais garagista, Dwyer esconde sob a doideira mais aparente um pequeno e inspirado criador de nuances sonoras que podem ser bastante surpreendentes. Veja o caso de OCS, um nome que ele dava às primeiras encarnações de Oh Sees, mas que aqui serve para ele e a cantora/multinstrumentista Brigid Dawson darem voz e chance a um punhado de composições de têmpera Folk psicodélica de ares sessentistas, como se eles entrassem numa cápsula do tempo e saíssem em plena Califórnia, em 1969. Memory Of A Cut Off Head, apesar do título acenar para a podreira conceitual, é um feixe de delicadas e estranhas canções, digamos, brandinhas.

Dwyer e Dawson dividem vocais, arranjos, concepção e tocam vários instrumentos ao longo do álbum. Há naipes de cordas, uso de mellotron, harpsicord e outras excentricidades sonoras que servem para legitimar o esforço estético que permeia o disco. Apesar das influências e da ambiência sonora, este é um exercício de composição/execução que passa bem longe do que a gente chama de nostalgia. Dwyer está, na verdade, se apropriando de um formato mais ou menos banal para dar corpo à sua visão, algo que é totalmente 2017, recheado de referências Pop e que é muito pessoal.

Há momentos surpreendentes ao longo das faixas, geralmente pela beleza/habilidade com que vão surgindo. Em The Remote Viewer, por exemplo, totalmente conduzida pela voz de Brigid Dawson e um acompanhamento de cordas e teclado imitando cravo, surge um pequeno solo de violino solitário e noturno, algo que faz uma diferença enorme no resultado final, a ponto da memória se referir inicialmente à canção como “aquela do violino triste”. A faixa-título é um assombro de beleza, com violões fluidos de referência folkster, correndo juntos pela estrada, enquanto o mesmo naipe de cordas sobrevoa a paisagem. As vozes de John e Brigid atingem uma afinação perfeita e, mesmo com algumas quebradas de andamento que surgem algumas vezes, a ideia que temos é de uma gravação de discípulos aplicados de gente do naipe de Crosby, Stills And Nash.

A psicodelia toma conta do gracioso instrumental The Baron Sleeps And Dreams, outro exemplo de criação em que as cordas são essenciais para a majestade do resultado, ainda que o andamento delicado e sinfônico seja engolfado por sonoridades perturbadoras a meio caminho do fim. On And On Corridor mantém a mesma graciosidade, dessa vez investindo na leveza de timbres que podem vir do mellotron como de um belo e campestre naipe de sopros. The Fool é outra canção cantada por Brigid, que já abre com o verso devastador “everytime you say goodbye I feel like a fool”, totalmente referendado pela leveza triste do arranjo. O padrão beatlemaníaco impregna a última canção, Lift A Finger By The Garden Path, algo totalmente coerente com o clima proposto – e executado – ao longo do álbum.

John Dwyer é um nome que deve ser lembrado como alguém versátil e surpreendente. O sujeito é capaz de gravar álbuns com múltiplas e distintas referências e soar com personalidade e conhecimento de causa. Este disco talvez seja o melhor que ele assina, em seus múltiplos projetos paralelos, nos últimos, sei lá, cinco anos. Ouça.

(Memory Of A Cut Off Head em uma música: Memory Of A Cut Off Head)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.