Resenhas

Cícero & Albatroz – Cícero & Albatroz

Quarto álbum do músico trabalha a coletividade tanto nos temas, quanto em seus processos

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Ano: 2017
Selo: Sony Music
# Faixas: 10
Estilos: Pós-MPB, Indie
Duração: 32'
Nota: 4.0
Produção: Pedro Carneiro, Bruno Giorgi e Bruno Schulz

Há três fases que passamos na experiência de ouvir o disco Cícero & Albatroz, sendo a primeira delas, obviamente, entender por que Cícero decidiu lançar seu quarto álbum com a co-assinatura Albatroz – o grupo que o acompanhou na turnê de A Praia, formado por gente de bandas como Baleia e Vetre -, assim como sacar no quê isso implica.

Quanto aos motivos da escolha, parece que era o momento do músico se distanciar um pouco da sequência de discos que lançou desde 2011, uma “trilogia” muito bem amarrada entre dois pólos, um mais à flor da pele (Canções de Apartamento) e o outro, de um intimismo mais calmo (Sábado). Na hora de brincar com outras sonoridades – um clima mais expansivo e carregado em timbres mais nítidos -, veio a decisão de começar a contar uma nova história.

O segundo passo na audição do álbum é o de ajustar essa nova cara de sua música àquilo tudo que entendemos como Cícero. A diferença mais notável nem é essa presença mais forte do som encorpado da banda (na qual os metais têm grande importância), mas em um distanciamento bastante significativo nos temas. Se antes o “eu” estava no centro, é a primeira pessoa do plural quem parece observar e dialogar com o mundo à sua volta – um senso “coletivo” natural quando pensamos que a obra foi concebida em grupo -, mesmo que as músicas sejam cantadas no singular.

Já no campo das semelhanças, não é só a voz do cantor que dá coesão a esse lançamento. Não é difícil estabelecer alguns paralelos entre músicas como A Grande Onda, A Cidade e Velho Sítio com o som que Cícero trabalhou nos últimos anos, sejam eles de ritmo, timbre ou mesmo composição. Uma certa “melancolia crítica”, aquela que conhecemos de Sábado, parece ser a protagonista das músicas, ainda que ela venha agora travestida em outro figurino.

Por último, há o envolvimento que essas músicas permitem que o ouvinte tenha, em parte pela sonoridade acalorada (um clima brasileiro, ou mesmo carioca, sem precisar falar em Carnaval), parte pela relevância de suas letras em um 2017 muito atribulado (com seus temas da vida urbana em palavras como “caos”, “tumulto” e “confusão” ao longo das canções) e pela identificação que quem nasceu e morou no Brasil de hoje em dia pode ter com a soma desses aspectos.

Não seria surpresa ver pessoas que nunca se interessaram muito pelo trabalho de Cícero descobrindo músicas como A Ilha, À Deriva e Não Se Vá e indo a um show só para vê-las ao vivo – aliás, não seria em vão palpitar que parte da motivação em fazer essas músicas é o quanto elas, muito provavelmente, ficarão melhor em grandes palcos, como os de festivais, do que suas anteriores.

Cícero & Albatroz, mesmo com todo o seu volume, não se impõe como “o disco de uma geração”, mas também não seria surpreendente se olharmos para trás no futuro e percebermos o quanto ele foi significativo na produção deste fim de década, tanto pela coletividade que ele promove, quanto pelo aspecto cronista que ele possui – algo que Cícero, como sabemos, faz muito bem, e Albatroz ampara em grande estilo.

(Cícero & Albatroz em uma música: A Ilha)

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BOM PARA QUEM OUVE: O Terno, Los Hermanos, Wado
ARTISTA: Albatroz, Cícero
MARCADORES: Indie, Ouça, Pós-MPB

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.