Resenhas

Charli XCX – Pop 2

Quarta mixtape de cantora inglesa discute conceitos de Pop com grandes participações especiais

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Ano: 2017
Selo: Asylum
# Faixas: 10
Estilos: PC Music, Pop Alternativo, Glitch Hop
Duração: 40:26
Nota: 4.0
Produção: A. G. Cook, easyFun, Life Sim, King Henry, Lil Data, Sophie, Umru, Ö

Apesar do Hip Hop dominar boa parte das listas de 2017, o Pop teve um dos seus anos mais interessantes, e Charli XCX é responsável por boa parte disso. Observando a carreira da compositora inglesa, é possível perceber que ela é bastante competente em analisar tendências de determinado tempo e produzir discos de destaque, dosando estereótipos e inventividade de forma bastante curiosa.

De um Indie Pop tímido até chegar a um relacionamento sério com a PC Music e o Glitch Hop, sua trajetória lhe ensinou muita coisa e, entre elas, está a compreensão do Pop como algo muito maior do que apenas “a música que faz sucesso”, mas um organismo vivo que se alimenta das relações pessoais e se transforma a cada segundo. Assim, é justamente desta complexidade do Pop que surge a necessidade de um novo lançamento em 2017, sucedendo a mixtape Number 1 Angel, lançada em março.

Pop 2 é uma tentativa de nos mostrar o quão diverso e múltiplo o gênero se tornou na atualidade. De certa forma, o título de sua quarta mixtape acaba por denotar um sentido que corrobora com esta proposta, indicando que o que escutamos aqui é uma nova forma de entender o Pop. Não que Charli XCX tenha a pretensão de fazer previsão das tendências futuras, mas é como se o termo e seu significado não dessem mais conta de explicar o quão complexo o gênero se tornou.

Tal complexidade é retratada com o grande número de participações especiais, cada qual mostrando uma personalidade única, marcante e que revela o fator global do Pop. Desta forma, o disco mostra-se bastante heterogêneo e Charli seria a grande curadora desta exposição, ressaltando um aspecto Eletrônico e, até mesmo, futurista que une todas as faixas. É curioso como Pop 2 nos mostra com clareza o paradoxo deste gênero: por mais que ele seja bastante versátil, sua apreciação é global.

Com uma estética da década de 1980, a mixtape abre com Backseat, parceria com Carly Rae Jepsen que abusa de sequenciadores em uma aura de neon brilhante. Out Of My Head, com participação de Tove Lo e ALMA, deixa as coisas mais dançantes, evidenciando uma das grandes qualidades de Charli XCX: refrões intensos e pegajosos. Se unindo a Caroline Polachek (ex-Chairlift, Ramona Lisa), observamos um Pop introspectivo e que cresce de forma epifânica e grandiosa, um dos destaques da mixtape. Em uma das maiores surpresas do registro, temos a reunião improvável de Brooke Candy, CupcakKe e da brasileira Pabllo Vittar em I Got It, um pesado Trap estilizado com glitches e muita distorção.

Femmebot, com Dorian Electra e Mykki Blanco, parece ser um resgate da própria obra de Charli, recorrendo a um Indie Pop característico de sua fase do EP Sucker. O Pop oriental também ganha espaço nesta mixtape, com a participação de Jay Park, em uma composição que brinca com pads e texturas artificiais do K-Pop. Por fim, Track 10 fecha o disco experimentando várias frases e melodias sem necessariamente ligá-las com um arranjo claro, como se fosse um laboratório de tendências em uma mesma música.

Pop 2 é um trabalho que funciona de duas formas: tanto como um compilado de faixas bem produzidas, dançantes e bastante chicletes, como uma grande reflexão sobre o rumo do Pop e, até mesmo, se ainda existe este tipo de divisão de mainstream e underground. Charli XCX consegue provocar o ouvinte e, certamente, mostra uma relação muito madura com o gênero.

(Pop 2 em uma faixa: Unlock It)

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BOM PARA QUEM OUVE: Allie X, Foxes, Sky Ferreira
ARTISTA: Charli XCX

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique