Resenhas

Francis and the Lights – Just for Us

Disco trabalha boas opções de estética e formato, mas falha em imprimir personalidade do músico

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Ano: 2017
Selo: RTTF
# Faixas: 10
Estilos: Pop Eletrônico, Pop Experimental, Indie Pop
Duração: 26'
Nota: 3.5

Existe uma perceptível força de vontade de ser referencialmente contemporâneo no trabalho que Francis Starlite apresenta sob a alcunha Francis and The Lights, visto que não só a estética que ele escolhe para seu som é bastante própria do nosso tempo, também a maneira de lançar seu trabalho procura seguir à risca alguns consensos sobre o consumo de música nesses últimos anos. Prova disso é este seu Just for Us, disco lançado praticamente de surpresa em 29 de dezembro – horas antes da meia noite, o artista compartilhou a informação de que um álbum seria lançado no dia seguinte, com uma aparente despretensão tão bem-vinda quanto calculada.

Seguindo as tendências, suas dez faixas somam apenas 26 minutos, o que parece também justificar a escolha do formato LP ao invés do EP. Tendo em média dois minutos e pouco de duração, as músicas promovem uma audição fácil, o que faz com que o tempo decorrido pareça passar ainda mais rápido. E se há algo que fica ainda mais claro do que suas intenções de moldar o lançamento a um formato tão palatável para a virada de 2017 para 2018 é justamente a fluência que Justin trabalha o aspecto Pop, Eletrônico e, novamente, contemporâneo em sua estética.

Just for Us, ao contrário de seu anterior Farewell Starlite, busca um som quase minimalista, ainda que sempre haja uma densidade volumosa que ocupa todo o espaço entre os dois ou três timbres que ouvimos em cada faixa – algo meio Lorde em Pure Heroine, ou como parte considerável da produção musical nesse nicho Pop Eletrônico desde que esse disco saiu em 2013-, algo muito bem feito em uma agradável diversidade de climas, de algo mais agitado/dançante em Tear It Up a baladas como I Won’t Lie to You, variedade que contribui a uma audição sempre bastante dinâmica do disco. Isso acontece também por um aspecto narrativo bastante notável aqui, trabalhado desde o desenvolvimento musical de uma faixa para outra até versos que se completam aqui e ali, como em Faithful (“If there was no god and nothing to do, I could be faithful to you”) e Never Back (“There is no god, there are no rules, but I wish there was something that I could do”).

E em meio à boa progressão entre as faixas, a sonoridade bacana bem executada e as pequenas surpresas em cada música (incluindo participação de Justin Vernon na faixa-título), o que argumenta contra Just for Us e, consequentemente, Francis and the Lights dessa vez é uma excessiva sensação plastificada que o trabalho passa, como se todo o tempo investido nas escolhas “certas” para o disco tivessem também retirado a personalidade que conhecemos antes e curtimos, uma figura despojada e divertida a ponto de colocar Kanye West e Vernon para dançar em um clipe. Se isso não desmerece o registro, tampouco incentiva o ouvinte a uma experiência que ultrapasse a audição do álbum meramente ao fundo do que estiver fazendo, por sua vibe boa. É um álbum referencialmente contemporâneo em sua estética e formato, como era a intenção, mas parece um disco fadado apenas a boas críticas, não a uma presença em sua lista de favoritos.

(Just for Us em uma faixa: Back in Time)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.