Resenhas

First Aid Kit – Ruins

Novo álbum da dupla sueca é grandioso

Loading

Ano: 2018
Selo: Columbia
# Faixas: 10
Estilos: Folk Alternativo, Folk Pop
Duração: 39:37
Nota: 4.0
Produção: Tucker Martine

Terminei de ouvir este Ruins, quarto álbum de First Aid Kit e pensei: “Uau, estamos diante de uma belezura de disco”. Nem vale a pena ficar pensando que as irmãs Klara e Johanna Söderberg são suecas e têm familiaridade espantosa com o Folk, ou mesmo se deter na semelhança espantosa que timbres e vocais disco adentro têm com clássicos do estilo. O que temos por aqui é aquilo que os gringos chamam de “breakthrough album”, aquele trabalho que vai tirar o artista de uma audiência menor e levá-lo para mais e mais gente ao redor do mundo, fazê-lo lotar estádios, chegar num patamar mais alto de importância, relevância e visibilidade. Fico feliz que algo tão bem feito e bem produzido tenha essa incumbência, caso explícito de Ruins, um disco, no mínimo, ótimo. Vejamos os motivos.

O talento das irmãs é óbvio. Elas compõem belas canções, têm vocais muito bem harmonizados, oscilam num cruzamento improvável entre Chrissie Hynde e Emmylou Harris, ouviram muitas coisas clássicas para chegar até aqui, porém, são duas jovens do século 21, cheias de experiências atuais para relatar e vivem nesse mundo de smartphones, Internet, closes certos, closes errados, reality shows e tudo mais. Certamente há gente chata ao redor delas as acusando de serem “clássicas” demais e outros dizendo, justamente, que elas ainda não têm estofo para soarem desse jeito. Felizmente as meninas parecem não se importar com nada disso e ampliam ainda mais o espectro sonoro já largo e gentil do antecessor, Stay Gold, de 2014, o primeiro álbum lançado pela Columbia Records, uma gravadora que chega até nas Ilhas Pago-Pago, não que a WWW já não tivesse feito este trabalho.

Com a produção cristalina de Tucker Martine, um cara que tem experiência no assunto, responsável por discos belos de Fleet Foxes e The Decemberists (não por acaso bandas que inspiram largamente o trabalho de First Aid Kit), as irmãs Söderberg soam altas, claras e cheias de força. Partindo de um relacionamento amoroso mal sucedido, Klara escreveu várias letras sobre os infortúnios experimentados com dor e força por ela recentemente e tal circunstância revestiu as canções com mais cores e deu mais profundidade. Além disso, não por acaso, há bambas no estúdio, dando uma força: Peter Buck (R.E.M.), famoso por farejar bons e jovens artistas Folk, está por aqui, além de Glen Kotche, um dos pilares sonoros do Wilco e caras legais como McKenzie Smith (Midlake) e Eli Moore, do LAKE, Toda essa gente jovem reunida traz coesão e força pras canções e pra gravação, empreendida com precisão por Tucker.

Há vários hits em potencial por aqui. Rebel Heart, a segunda canção do disco e a virar (belo) clipe (depois da boa Fireworks), tem jeito de campeã. Belíssima, com uma aura setentista de “música da estrada”, algo forte e extremamente bem arranjado, com direito a final falso e pinta de jam session. Postcard, singela e grandiosa ao mesmo tempo, fala da passagem do tempo em relação proporcional à distância percorrida, algo que, nem sempre funciona. Depois dela, maior que a vida, ainda que comece pequena e tímida, está a impressionante To Live A Life, desses buracos que se abrem no tempo e nos permitem ver várias verdades que não se mostram o tempo todo, atuando como uma espécie de buraco de minha existencial/sentimental. Um arranjo de teclados e cordas reveste de amor a gravação. Distant Star mostra a habilidade de Klara e Johanna em lidar com adereços Country, presentes nas vozes e nos detalhes do arranjo, especialmente a steel guitar e o órgão. Nesse mesmo caminho vêm a faixa-título e Hem Of Her Dress, cheias de sentimento de alternância do binômio força/fragilidade. Fechando o disco, outro tiro no peito, com título emblemático entre as grandes questões do coração: Nothing Has To Be True*.

First Aid Kit já é uma realidade para vários fãs por aí. Com personalidade, total capacidade para escrever, compor e gravar belas canções e cheias de bom senso artístico, as irmãs Söderberg não estão para brincadeira. Ainda bem. Ouça e se apaixone.

(Ruins em uma música: To Live A Life)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.