Resenhas

Rhye – Blood

Segundo disco de produtor traz calculadas inovações sobre sua estética suave e etérea

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Ano: 2018
Selo: Loma Vista Recordings
# Faixas: 11
Estilos: Minimal, Neo Soul, Ambient
Duração: 42:01
Nota: 4.0
Produção: Michal Milosh e Thomas Barlett

Em meio a experimentalismos barulhentos e caóticos, quem consegue utilizar o silêncio a seu favor tem um grande trunfo. Rhye, projeto encabeçado pelo multi instrumentista Michael Milosh, é um desses habilidosos nomes que enxerga na parcimônia uma oportunidade para entregar ao ouvinte um universo de sentimentos tão complexo quanto de outros nomes mais barulhentos. Em uma mistura de R&B/Soul com a música minimalista, o projeto é responsável por Woman, disco eleito o terceiro melhor de 2013 pela equipe Monkeybuzz e potencialmente uma das experiências mais suaves produzidas na músical Soul contemporânea. Agora, cinco anos após sua marcante estreia, Mike Milosh tem um grande desafio nas mãos: como dar prosseguimento a sua obra sem desrespeitar a tradição tão bem estabelecida que Woman impôs ao ser lançado.

Para resolver o impasse, Blood veio ao mundo. O segundo disco do projeto é uma prova de que o método de construção e composição de Rhye é bastante semelhante aos aspectos de sua sonoridade. Aos poucos, com um calculismo preciso, Michal Milosh vai experimentando novas formas de expandir seu campo criativo, respeitando sempre os limites desta estética que parece ser sua menina dos olhos.

Timbres novos, arranjos maiores e linhas rítmicas que se aproximam do Pop são algumas das tentativas de dar novos direcionamentos às onze composições. Dessa forma, o produtor parece ter bastante controle sobre sua obra e em meio a detalhes mínimos, nada aparenta estar fora do lugar. Parte da necessidade de buscar novos elementos parece ter vindo da dinâmica de shows da turnê de Woman, que era apresentada com uma banda completa ao invés de notebooks reproduzindo os samples.

De forma vagarosa e etérea, Waste nos indica o início da obra, construindo aquela sensualismo conhecido e brincando com reverbs menos exagerados. Blood Knows traz uma batida um pouco mais pulsante ilustrada com belos arranjos de cordas e linhas vocais R&B. Beirando um Techno Minimal, Feel Your Weight mostra alguns dos novos elementos impressos na estética de Rhye, principalmente na escolha dos timbres de sintetizadores. Já Please é uma emocionante balada conduzida pelo soprano rouco de Milosh, que aborda temas como o fim de um relacionamento e angústia deste episódio.

Em um leve flerte com a bossa, Song For You traz o paradoxo clássico deste projeto: misturar a tristeza e a beleza em um mesmo território. Phoenix, com sua imponente e suingada linha de baixo, mostra que o RnB também é parte integrante de sua sonoridade, lembrando algumas referências como Laura Mvula. Por fim Sinful encerra esta paisagem brincando com violões hipnóticos e cordas em pizzicato em dos momentos mais expansivos do disco.

Mesmo controlando cada aspecto de sua criação, é possível inferir que as novas direções tomadas neste trabalho revelam um caráter vivo de sua criação. Assim, Blood seria uma espécie de descoberta disso; daí o nome do disco, que mostra o sangue que corre por entre os arranjos e timbres, se renovando a cada música. Uma experiência profunda conduzida pelas suavidades de Michael Milosh.

(Blood em uma faixa: Blood Knows)

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BOM PARA QUEM OUVE: Quadron, Laura Mvula, Blood Orange
ARTISTA: Rhye
MARCADORES: Ambient, Minimal, Neo Soul, Ouça

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique