Resenhas

Vance Joy – Nation Of Two

Segundo disco do compositor traz uma análise emocional da rotina dos casais

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Ano: 2018
Selo: Liberation Music
# Faixas: 13
Estilos: Folk, Indie, Pop
Duração: 45:00
Nota: 3.5
Produção: Phil Ek

Relacionamentos são complicados e, às vezes, uma canção pode não ser suficiente para explicar a complexidade que existe neles. Embora haja um senso comum de que os discos bons sobre casais são aqueles de términos e rompimento, a rotina incessante também pode ser material de inspiração para obra de artes, basta um olhar sensível. Dessa forma, Vance Joy é um compositor cujo olhar foi aguçado o suficiente para perceber essas relações das relações, munido de um histórico de registros introspectivos e repletos de um Indie Folk grandioso. Apesar deste ser seu segundo disco, o músico já demonstra que este olhar sobre as coisas é sua grande marca, fazendo de cada canção um grande microscópio que amplia as particularidades.

Nation Of Two traz à tona a história de um casal que encontra em sua rotina a essência que o define. Como narrador, Vance Joy tenta trazer esta história além da simples cronologia dos fatos cotidianos, usando descrições psicológicas e falas em primeira pessoa para aguçar o aspecto confessional do disco. De certa forma, o disco se comporta como uma grande crônica e os arranjos das composições servem como recurso narrativo para ampliar a dimensão dos eventos. Acontecimentos diários são as razões de grandes epifanias e momentos grandiosos com violões dançantes, pianos quentes e batidas cativantes. Mesmo nos momentos mais calmos do trabalho ainda temos essa sensação vívida entre os versos compostos minuciosamente e de forma tão terna.

Abrindo com Call If You Need, começa como se fossem os primeiros passos do casal, conversando pelo vidro do boxe no banheiro ao som de um delicado dedilhado. We’re Going Home, com um apelo Pop marcante, fala sobre a saudade que impera mesmo quando o tempo cronológico não é tão grande para embasar este sentimento. A parceria e cumplicidade ficam muito claras em Take Your Time, um convite dançante para dançar no meio da cozinha e confiar com todas as forças na pessoa amada. Momentos mais densos, no qual se fala dos relacionamentos passados, ficam representados pela lenta Like Gold.

Analisando uma das partes do casal, Little Boy conta sobre um acidente na infância de um dos protagonistas e que mostra como cada episódio de nosso passado nos forma, refletindo mais tarde no relacionamento atual. E por fim, ironicamente, Where We Start conta o começo do relacionamento, onde a paixão arde e tudo que a pessoa amada faz é objeto de adoração eterna – uma interessante escolha para a faixa final do disco.

Nation Of Two é bonito, porém complexo. Mesmo que seja um disco embalado em estereótipos do Pop, sua construção e, principalmente, seu olhar em torno deste casal, faz as coisas ganharam proporções maiores. Daí o nome do disco: apesar de serem apenas duas pessoas, ele produzem tanta força quanto uma nação inteira, repleta de microsistemas, histórias e emoção para contar. Um disco sobre a complexidade de amar.

(Nation Of Two em uma faix: We´re Going Home)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique