Resenhas

Kali Uchis – Isolation

Álbum de estreia da cantora e compositora traz sonoridade complexa e única com grandes produtores

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Ano: 2018
Selo: Virgin
# Faixas: 15
Estilos: Bossa Nova, Neo Soul, RnB, Dream Pop
Duração: 46:30
Nota: 4.5
Produção: Kali Uchis, Badbadnotgood, Thundercat, Gorillaz, Kevin Parker, Steve Lacy, Tyler The Creator, Midas Touch, entre outros

Comparar Kali Uchis a uma flor que aos poucos desabrochou até chegar à sua forma final é uma injustiça sem proporções. Quando usamos esta metáfora, limitamos as potencialidades que a cantora e compositora américo-colombiana trouxe em sua curta, porém riquíssima, carreira. Com mixtapes ambiciosas e parcerias que flertavam com a música latina e um Hip Hop psicodélico, ela conquistou firmemente seu terreno na música e, aos poucos, foi possível perceber que aquilo que criara se situava em um buraco que ninguém havia ocupado, de uma sonoridade genuinamente única. Assim, depois de anos, seu primeiro disco veio ao mundo mostrando que a flor que tantos usavam como comparação não era suficiente. Kali Uchis é, na verdade, um bioma inteiro.

Isolation é a forma última daquilo que a artista desenvolveu ao longo de tantos anos como vocalista e como produtora. Com uma equipe de peso na produção, temos aqui o desenvolvimento de uma estética que nos seduz pelo seu aspecto misterioso. Kali Uchis veste uma roupagem de cantoras colombianas dos anos 1980, mas também dá uma polida nessa referências com timbre psicodélicos como se estivéssemos escutando estas canções em um aparelho VHS. É uma sonoridade árida e simultaneamente refrescante. Sedutora e hostil. Essas contraposições são um dos elementos chave para a construção do trabalho como um todo.

Cada produtor contribui à sua medida para a composição geral do trabalho, mas todas as diferentes referências se unem sob o comando da icônica voz de Kali Uchis. Seu timbre rouco consegue transitar pelos terrenos do Jazz, R&B, Hip Hop e paisagens psicodélicas sem parecer forçado. Esta característica revela que a colombiana não é apenas intérprete passiva de seu disco, mas uma produtora consciente e muito minuciosa em fazer com que suas intenções sejam fidedignamente passadas para estas composições.

Bebendo da fonte fresca da Bossa Nova, o caminho de Isolation é inaugurado com Body Language, uma suave batida que traz flautas e sintetizadores distantes. Com participação de Steve Lacy (The Internet), Kali também mostra a forte influência das batidas eletrônicas em sua formação como cantora, principalmente da era de ouro (década de 90) da MTV. Tyrant, com participação de Jorja Smith, parece ser uma versão minimalista do Reggaeton ilustrado com timbres brilhantes dos anos 80, mas, em Nuestro Planeta, o gênero é mostrado sem interferências, em sua essência Pop.

Tomorrow, produzida por Kevin Parker (Tame Impala), traz a Psicodelia Hi-Fi típica do último disco do grupo australiano e mistura com a voz hipnotizante de Kali em um dos melhores momentos do disco. Junto a Tyler The Creator e Bootsy Collins, After The Storm traz uma suavidade ímpar entre grooves de bateria e acordes quentes, todo coordenado e composto pelas habilidosas mãos de Badbadnotgood. Por fim, Killer dispensa interferências modernas e tenta mostrar as raízes de Kali, em uma balada com belos arranjos de cordas e percussões latinas suaves.

Isolation é um daqueles discos de estreia decisivos. Ele mostra tudo o que sabíamos sobre Kali Uchis e, ao mesmo tempo, nos surpreende por colocar em prática uma nova dimensão de sua rica e complexa sonoridade. Se a flor não é mais suficiente para abranger toda a qualidade deste registro, a paisagem do oasis parece mais adequada: cheio de momentos intensos para chegar ao seu interior, mas certamente recompensador e refrescante.

(Isolation em uma faixa: After The Storm)

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BOM PARA QUEM OUVE: Jorja Smith, Sabrina Claudio, SZA
ARTISTA: Kali Uchis

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique