Resenhas

J. Cole – KOD

Artista mantém um lugar reservado dentro do jogo do Rap

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Ano: 2018
Selo: Dreamville, Roc Nation, Interscope
# Faixas: 12
Estilos: Rap, Hip Hop
Duração: 42:27
Nota: 3.5
Produção: J. Cole, Childish Major, Deputy, Mark Pelli, T-Minus

Uma das melhores características no trabalho de J. Cole é o lugar reservado que este ocupa. Não me refiro à projeção de sua carreira, uma vez que o rapper parece ter o ingresso garantido no mainstream – sendo o seu nome já citado por fãs do quilate de Barack Obama -, mas sim por manter-se em um lugar de resistência às obviedades do Rap: o desejo de poder, a violência, o dinheiro e, enfim, a ostentação de um modo geral, estão longe de serem objetivos para o artista, que usa do Rap como uma mensagem para exaltar as qualidades de uma vida simples. A faixa Folding Clothes, presente no álbum 4 Your Eyez Only, na qual o artista relata o prazer de realizar atividades cotidianas ao lado da esposa, talvez seja seu exemplo mais proverbial.

J. Cole se mantém sozinho nesta posição. Sua opção por faixas curtas, sem convidados, é uma antítese ao Rap feito para vender, exemplificado por álbuns que se estendem por horas e abarrotados de participações especiais. E, por isso mesmo, grande parte da crítica menospreza o seu trabalho como entediante – críticas das quais o artista se esquiva, como se só quisesse ficar de boa.

Não que KOD esteja isento de críticas. As opções líricas de J. Cole podem, de fato, soar esquisitas. O nome do álbum é um acrônimo que pode significar “Kids On Drugs”, “King OverDosed” ou “Kill Our Demons”. As intenções por aqui são claras, mas soam como escolhas pretensiosas de artista iluminado que vem para ensinar uma lição ao público.

O clipe de ATM, por exemplo, balizado pela estética dos anos 90, lembra o de um equivocado Justin Timberlake libertando as pessoas do “sistema”. Como fazer, por exemplo, para alertar as crianças contra os perigos do uso de drogas sem recair em uma fala de teor moralista, subserviente à noção de “pessoas de bem”? Em geral, as falas do rapper não se aprofundam nas idiossincrasias na vida, apenas alertam para o fato de que, para qualquer atitude, há uma consequência.

Quando o artista fala com mais objetivo – como quando conta a história de sua mãe em Once An Addict – sua música se afina, e tudo parece se encaixar. Sem alardes, experimentado livremente pelo território do Hip Hop contemporâneo, seja no uso das batidas pesadas do Trap ou de samples mais evocativos, J. Cole vai, contrariado, estabelecendo seu nome sem a necessidade de entrar em disputas de poder.

(KOD em uma música: Once An Addict)

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BOM PARA QUEM OUVE: Vic Mensa, Isaiah Rashad, Rashid
ARTISTA: J. Cole
MARCADORES: Hip Hop, Rap

Autor:

é músico e escreve sobre arte