Resenhas

Grouper – Grid Of Points

Novo álbum é um desfile de belas canções ao piano

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Ano: 2018
Selo: Kranky
# Faixas: 7
Estilos: Folk Alternativo
Duração: 21:46
Nota: 3.5
Produção: Liz Harris

Este pequeno álbum de Grouper tem dois elementos que me agradam bastante: o uso do silêncio como parte essencial do arranjo e a ideia de que o artista está cantando/se apresentando de algum ponto distante da nossa vida cotidiana, isolado, quase em outra dimensão. O projeto da cantora, pianista e compositora Liz Harris traz exatamente estas impressões neste belo Grid Of Points. Geralmente quando estas sensações tomam conta, logo me vem à mente uma paisagem fria, desértica, possivelmente litorânea, uma típica praia cinzenta, branca, fria, uma antítese do que todos pensam ser o certo. Também me lembro imediatamente de uma canção, a qual imagino que Liz não conheça, chamada As Praias Desertas, de Tom Jobim, composta em 1958 e gravada por Elizeth Cardoso, Maysa e várias outras cantoras. A voz feminina, a melodia esparsa, as figuras de linguagem, a solidão insinuada, tudo isso habita lá, na origem geográfico-emocional da Bossa Nova e aqui, neste disco, de alguma forma.

Não pense que há qualquer semelhança estética entre os estilos, a análise aqui precisa ser feita no plano das emoções e sensações. Detalhes técnicos quase não importam, apenas que Liz gravou o álbum após compor as canções em uma semana, pensando em arranjos de piano, voz e silêncio. Tudo é lento, frio, desolado, úmido e capaz de suscitar memórias legítimas ou não, despertando um arquétipo de solidão que talvez todos tenhamos em nós, com sua percepção variando de acordo com a idade e a circunstância. As sete canções vão oferecendo diferentes vista da mesma paisagem, ora com mais pianos, ora com mais vocais, sempre com a impressão de conter, ao mesmo tempo, dor e cura para este mal de estar só, seja na multidão, seja a sós.

Não dá pra destacar uma ou outra melodia, tudo é dolorosamente belo. A voz de Liz tem um registro espectral pouco comum, escapando de outras colegas de profissão que tendem a encarnar algo próximo do ingênuo ou do sexy, o que soaria errado por aqui. É como se Liz estivesse autorizada a estar numa fronteira distante, fazendo balanços emocionais nossos, dos quais nunca soubemos.

Perdoem se esta resenha está pouco objetiva, mas recomendo fortemente a audição em ambiente sem luzes, por meio de fones de ouvido. Depois diga o que achou.

(Grid Of Points em uma música: Birthday Song)

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BOM PARA QUEM OUVE: Julianna Barwick, Julia Holter
ARTISTA: Grouper
MARCADORES: Folk Alternativo, Ouça

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.