A comediante Michelle Wolf, durante evento oficial da Casa Branca para a imprensa no último fim de semana, disse em seu monólogo que o atual presidente Donald Trump já havia sido chamado de todas as coisas, de burro a misógeno, e nada parecia o atingir. Por isso, ela adotou uma nova estratégia para tentar incomodá-lo: Começou a chamá-lo de “pobre”, ironizando tanto seu discurso elitista quanto sua arrogância com suas conquistas materiais.
Complicit EP parece seguir a mesma linha de raciocínio: Muitos discos foram feitos nos últimos tempos com críticas diretas à figura do governante, então era necessária uma nova estratégia se Gang of Four quisesse realizar algo original dentro desse espírito crítico. A escolhida foi utilizar sua filha, Ivonka Trump, como inspiração e até mesmo capa do disco.
Ao contrário do discurso da comediante, o EP, ainda que movido por essa fagulha não-óbvia, falha em se destacar em meio aos montes de lançamentos que carregam o mesmo conteúdo na temporada. Não só porque, do tanto já dito sobre o tema, os discos que saem agora parecem mais tentar não ficar de fora desse zeitgeist, mas também porque esse Rock Eletrônico de aspecto leve, um tanto irônico, já virou “mais do mesmo” há muitos anos.
As três faixas inéditas são um tanto longas para os ouvindos de 2018 (a mais curta acaba nos 4:39), o que pode ser um mero detalhe, mas também denota um certo aspecto datado com que a banda decide trabalhar um tema contemporâneo. Nenhuma delas é necessariamente ruim, mas falham em atingir um carisma temporal que as colocaria em maior destaque. O remix de Lucky, incluído ao final, pouco acrescenta ao todo.
Se escolher Ivanka ao invés de Donald para a capa e para a ilustração direta das letras foi uma boa ideia, o EP não consegue sair da média quando se trata da música. Ao contrário do discurso de Michelle, que tinha mais ou menos a mesma duração do disco, não apresenta um conteúdo divertido, envolvente e, acima de tudo, de um conteúdo crítico relevante.
(Complicent EP em uma música: Lucky)
