Resenhas

Twin Shadow – Caer

Produtor concentra mais uma vez sua atenção na década de 1980

Loading

Ano: 2018
Selo: Reprise/Warner
# Faixas: 13
Estilos: Eletrônica, Pop Alternativo
Duração: 41:07
Nota: 3.0
Produção: Geoge Lewis Jr.

Não tenho anda contra a década de 1980. Mesmo, eu juro. Apesar disso, confesso que nem sempre tenho espírito esportivo para aguentar a horda de artistas capturados pela música e pelas expressões culturais que vieram à tona naqueles dez anos, pouco mais, pouco menos. Twin Shadow é mais um desses caras. Produtor, multinstrumentista, com carreira já trazendo três álbuns e a participação na trilha sonora do jogo Grand Theft Auto V, ele faz dos 80’s a sua musa inspiradora. Para viabilizar tal fato, Twin, que chama George Lewis Jr, um domenicano criado na Flórida, nascido em 1983, se vale do domínio de parafernálias eletrônicas, da proximidade com o R&B e certa técnica vocal. Com esses elementos em mãos, ele fez Caer (“cair” em espanhol) e chega com certa marra nos fones de ouvido dessas bandas daqui.

Meu tédio com os anos 1980 vem do fato de que, gente, acreditem, eles não foram grandes coisas. Na época eu só queria saber de pesquisar música das duas décadas anteriores, estas, sim, definidoras e cheias de criações inéditas. Mas toda a indústria cultural criada e potencializada a partir daquele tempo se encarrega de glorificá-los e vendê-los como o ápice da civilização humana. Não foram, acredite. Tudo bem. Nem Twin Shadow, nem você ou eu temos algo a ver com isso e talvez você goste do coquetel que ele oferece de canções R&B diluídas com fortes influências daqueles tempos. Tudo com cara de sobra de grupos pouco lembrados como Debarge e Shalamar ou ainda de Michael Jackson e um sem-número de one-hit wonders. Pra quem não conhece os originais, talvez seja legal e refrescante.

Em tempo: não se trata de nostalgia ou apreço pelo mais velho como algo “melhor”, mas é bom cobrar, pelo menos, alguma inovação ou impressão de traço pessoal. Twin Shadow não faz isso, ele apenas recicla timbres, tons, programações de bateria e teclados daqueles tempos e os coloca na frente de sua música. Quem nunca ouviu achará “novo” e se esbaldará. Twin/George também tem certa habilidade como compositor, entregando uma ou outra boa canção ao longo de seu percurso revisionista. Se ele não detivesse tal habilidade, ainda que num grau reduzido, seria muito mais complicado apreciar suas canções.

Algumas se destacam da mesmice total, caso da boa Saturdays, com participação das irmãs HAIM nos vocais, com jeitão de canção integrante da trilha sonora de filmes como Footloose ou Top Gun. Outros bons momentos estão presentes em Littlest Things, com jeitinho de balada inocente e a melhor faixa do álbum, a dançante e graciosa Too Many Colors, com pinta de hit obscuro de bandas como Erasure ou algo do New Order voltado para o Jardim da Infância. O bom trabalho de teclados e batidas faz toda a diferença por aqui. O fecho do disco, com três baladas Synthpop, Obvious People, Runaway e Bombs Away, funciona como anticlímax em relação a essas boas faixas mais arejadas.

No fim das contas, este disco de Twin Shadow deve faz algum barulho em fãs de produtores e tecladeiros felpudos de estúdio, mas não deverá encantar os que têm alguma rodagem neste terreno. Pesque as pérolas mais legais neste mar e siga em frente.

(Caer em uma música: Too Many Colors)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Future Islands, Poliça, Toro y Moi
ARTISTA: Twin Shadow

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.